Por Silvana Coelho
Fala-se muito das redes sociais, onde as pessoas usam filtros para expor uma realidade que gostariam de ter. Engana-se aos outros e a si mesmos, produzindo sofrimento.
Aos outros, pelo desejo inalcançável, porque não é real. E a si mesmo, pela não aceitação de si como se é, e pelo desejo de ser e parecer ser quem não se é.
Nestes casos, a novidade, no que se refere às redes, é a proporção e a possibilidade de alcance global da enganação.
Na vida, sempre houve, e ainda há, mesmo fora das redes, pessoas que vivem a vida como uma peça de teatro que nunca acaba. Uma peça onde não cabe a opinião do ator. Tudo é representação.
“a gente vive com a pessoa e não conhece de verdade”
“nunca pensei que fulano faria isto”
“come frango e arrota caviar”
“se veste como pobre e é cheio de dinheiro!”
“nunca fale seus sonhos a ninguém, ou vão tirar o seu tapete”
Mas há também aqueles que passam a vida sem se expor, nem na rede, nem presencialmente. Vivem protegidos por um manto de possibilidades. Quem os conhece projeta neles a imagem do desejo de quem queriam que fossem. Nem sempre coincide.
Viver exige coragem, já dizia Guimarães Rosa, através de Riobaldo. Representando, ou não, tem sempre o risco de não ter aplausos.
Mas sem que as pessoas se exponham verdadeiramente fica difícil formar redes de afinidades, que até poderiam facilitar a realização dos sonhos de cada um. Já alertava o cantor que sonho que se sonha junto é mais fácil de virar realidade.
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Ortodontista e Doutora em gestão