Por Victor Pinto
Tenho dito de maneira reiterada nos meus comentários sobre a grande interrogação da vez na disputa municipal deste ano: medir o nível de influência do governo federal e suas práticas na eleição local. Quando fazemos o recorte das grandes cidades baianas, como Salvador, Feira de Santana e Vitória da Conquista, isso não foi tão decisivo no ato de eleger um prefeito, apesar de ter um peso no processo.
Mesmo com essa grande questão, o presidente Lula (PT), sem sombra de dúvidas, é um senhor cabo eleitoral, principalmente nos rincões baianos, garantidores da eleição de Jerônimo Rodrigues (PT) como governador da Bahia, diga-se de passagem. E mesmo com a chave da Bahia em suas mãos, a analogia feita por mim em 2022 quando justifiquei o seu poder de influência na disputa do Palácio de Ondina naquele ano e em 2006 e 2014 também, Lula tem desafios diferentes.
Sua primeira visita em solo baiano frustrou aqueles que esperavam um discurso, apesar do evento institucional no Cimatec, que pudesse passar recados eleitorais. Repetiu reiteradas vezes suas agendas futuras em solo baiano, mas não deu uma deixa delas aconteceram em período de campanha.
O vice-governador Geraldo Júnior (MDB), sofredor de resistências internas dentro do próprio PT, busca se travestir de futuro candidato de Lula à prefeitura de Salvador e também pudera: não carregará a estrela no peito e nem o número petista, o mesmo do presidente. Tentará convencer a população ser, por osmose, esse nome, pois representa o governador Jerônimo, fiador do seu passe na corrida.
Mas no meio do caminho tem um Kleber Rosa (PSOL), tem um Kleber Rosa (PSOL) no meio do caminho. O psolista, candidato a governador no pleito passado, tem dito em entrevistas que reivindica o título de pré-candidato soteropolitano de Lula. O partido é base do governo federal no Congresso, diferente do MDB, não lançou candidato presidencial para apoiar Lula desde o início e fez questão de trabalhar esse voto em solo baiano.
Kleber tem sido uma primeira pedra no sapato de Geraldo por buscar absorver o voto da esquerda ideológica e não fiadora do voto útil. Para tanto, na última pesquisa Atlas Intel, aparece tecnicamente empatado com o emedebista pelo Palácio Thomé de Souza.
Já no meio dos dois tem um Bruno Reis (UB), carregando consigo o forte instituto da reeleição, e possuidor de um desejo de ver Lula longe do solo soteropolitano. Por mais que o União Brasil não seja oficialmente base do governo federal, mesmo com ministros indicados na Esplanada, a sigla é um pilar do centrão, grupo necessário para garantir a governabilidade congressista. Reis é membro da Executiva nacional da legenda e Lula precisa do UB na Câmara Federal.
Um processo velado de distanciamento está em curso, tanto que o governador disse compreender se Lula adotar uma postura diferente na Bahia em detrimento da garantia da governabilidade nacional. O mesmo pode valer para Conquista e Feira, apesar de contextos diferentes, pois lá, a estrelinha do PT estará na urna e a conversa é outra.
As teses só vão se concretizar no decorrer da campanha com o resultado em 06 de outubro de 2024. Certo fez Geraldo Júnior que aproveitou a visita do presidente e tirou um arsenal fotográfico ao lado do inquilino do Planalto para trabalhar na pré-campanha. Se essa imagem de “amigo irmão” vai colar, só a esteira do tempo para dizer e as pesquisas futuras indicarem. A conferir.
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Jornalista. Twitter: @victordojornal