Por Roberval Santos
O querido amigo Roberto de Carvalho, me ligou no fim da tarde convidando para ir ao pré-réveillon na Varanda do SESI com Alexandre Leão. Foi uma festa da porra! Muito massa! Um dos elementos da mesa era o escritor e pesquisador, licenciado em Artes Cênicas pela UFBA, Ivan Santana, que também, como eu, faz parte do Movimento Popular de Canudos. Fui levado ao movimento pela querida “cantadora” Roze em 1997, centenário do encerramento da guerra, massacre, ao povoado de Belo Monte. Comecei a ler a introdução do presente autografado e parei em lágrimas, ao final. São muitas histórias não contadas, desconhecidas, e muito cruéis com o povo brasileiro. Neste caso, com crianças. Aqui, a descrição de parte desta introdução! Obrigado, Ivan Santtana! Obrigado, querido Roberto de Carvalho, por uma noite maravilhosa!
Meu olhar sobre canudos
Canudos é uma história cheia de camadas. Desvelar essas camadas sempre foi em desafio de muitos historiadores voltados para este tema. Mesmo com “o livro vingador”, Os Sertões, de Euclides da Cunha, muito dessa história ficou por ser dito, comprovado, aprofundado. Uma dessas camadas é a que não trouxe à superfície, como deveria, a história das crianças que viveram ali, e que, durante o período da guerra, sofreram todo tipo de maus tratos. Milhares foram assassinadas da forma mais brutal; outras, violentadas, estupradas por militares, como foi o caso da menina Maria Domingas. Mesmo após a guerra, as crianças prisioneiras que sobreviveram ao massacre, segundo o Comitê Patriótico, instalado na bahia no ano de 1897, foram levadas por militares, separadas dos pais, doadas a coronéis da região, e às casas de prostituição em Salvador. Muitas dessas crianças, supostamente adotadas pelos militares, que se colocaram como protetores, foram por estes mesmos estupradas e abandonadas à própria sorte. Algumas delas encontradas pelo referido Comitê em completo estado de penúria e abandono, esqueléticas, beirando à morte.
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Músico, instrumentista e pesquisador musical