Nosso comentário final sobre a inveja 10

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Por Joaci Góes
(Para o Deputado e amigo Eduardo Salles)

Sem dúvida, concentrar-se na realização dos projetos anelados, sobretudo com apoio de nossas características mais fortes, é o caminho mais seguro para nos protegermos contra os perigos do chão minado pela inveja. E quanto mais houver nesses projetos de genuíno interesse pelo bem-estar alheio, pela felicidade de terceiros, não como um meio para alcançar benefícios pessoais, mas como um fim em si mesmo, maior o sentimento de realização que é a mais eficiente vacina contra o vírus da inveja. O “é dando que se recebe”, lema altruístico de São Francisco de Assis (1182-1226), tem sido identificado como meio poderoso para se alcançar a felicidade plena. Blaise Pascal (1623-1662) repetiu a lição de São Francisco dizendo que “o prazer dos grandes homens consiste em fazer os outros mais felizes”.

Explicar, satisfatoriamente, como, quando e porque os seres humanos são naturalmente invejosos continua a ser uma equação a desafiar a psicanálise. Merece reflexão, portanto, o fato de um sentimento tão antigo quanto universal e desagregador, não ter sido, até então, alvo de um debate aberto e de um combate sistemático, para melhor proveito da convivência humana. Sobre o assunto, a humanidade tem preferido o faz de conta, o pacto silencioso, a ‘omertà’ siciliana, fonte de continuada desilusão e sofrimento. Paira no ar o compromisso tácito: “Ignora a minha inveja, assim como eu venho ignorando a tua. E tudo continua como dantes no quartel de Abrantes”. O fato é que apesar da inequívoca ubiquidade da inveja, a humanidade se habituou a dissimular este sentimento e a reprimir e estigmatizar o seu declarado portador. O psiquiatra brasileiro José Ângelo Gaiarsa é autor de uma frase que sintetiza de modo definitivo a importância do estudo da inveja para o bem-estar da humanidade: “Se alguém escrevesse o livro que precisava ser escrito sobre a inveja, seria uma obra mais importante que O Capital” (Revista Você s.a., setembro, 2000).

Não há tempo a perder: mãos à obra!

            Para reflexão dos interessados, listamos uma pequena amostra do que diferentes pessoas têm dito a respeito da inveja:

“O invejoso prefere a igualdade do inferno à hierarquia   do céu”. Madame de Staël.

“A inveja implica sempre consciência de inferioridade”.  Plínio.

“A inveja é o principal obstáculo à felicidade”.   Frank Tyger.

“Se tivéssemos consciência de quão pouco usufruímos do muito que temos de desfrutável, não haveria tanta inveja no mundo”.   Young

“O ciúme é, de algum modo, justo e razoável porque o seu propósito é o de conservar algo que é nosso ou que supomos ser nosso; enquanto a inveja é uma dor que não tolera o que supomos constituir a felicidade do outro”.   Joaci Góes

“A inveja que fala e grita é menos perniciosa do que a temível inveja silente”.  “A faculdade mental de comparar que, no intelecto, é uma fonte de justiça, é, no coração, a mãe da inveja”. Antoine Rivarol

“Quem afirma que não é feliz poderia sê-lo com a felicidade do próximo, se a inveja não lhe tirasse esse último recurso”. Jean M. de La Bruyère

“Não há amizade, parentesco, qualidade, nem grandeza que possam enfrentar o rigor da inveja”. Miguel de Cervantes

“Admiração é a entrega feliz; inveja é autoafirmação infeliz”. Sören Kierkergard

“Sucesso no Brasil é ofensa pessoal”. Tom Jobim.

“Abaixo todos os que estão subindo”. Para-choque de um caminhão mexicano.

O filósofo e historiador polonês Leszek Kolakowski(1927-2009), em seu clássico As principais correntes do marxismo(1976-78), observou que a esquerda política, invariavelmente, aponta para ideais inatingíveis, como um meio de manter-se, permanentemente, na oposição. Um modo emocional de legitimar, como criação, seu poder de destruição. Leszek deixou o comunismo ao concluir que a crueldade totalitária do stalinismo não decorria de uma aberração pessoal, mas de constituir um produto estrutural do marxismo, depois de visitar a Rússia, a partir de quando passou a sofrer perseguições que o obrigaram a se exilar na Inglaterra.