Por Victor Pinto
O cenário político da Bahia sempre foi marcado por figuras emblemáticas, mas poucas vezes se viu uma relação tão complexa quanto a de Jaques Wagner e Rui Costa. Quase um entre tapas e beijos. O criador e a criatura, como são frequentemente descritos, vivem um embate velado que atravessa anos e agora chega a um momento crucial. Rui, atual ministro da Casa Civil, almeja uma vaga no Senado em 2026, enquanto Wagner vai à reeleição e busca o equilíbrio entre os partidos aliados garantidores da vitória petista no Estado. No meio dessa disputa está o governador Jerônimo Rodrigues, peão de um xadrez onde as peças principais jogam por objetivos distintos.
Convenhamos, Rui não teria alcançado o protagonismo que tem hoje sem a liderança de Wagner, que o lançou ao governo do estado em 2014. Basicamente tudo que Rui carrega na trajetória de funções hoje, de protagonismo, teve a digital do galego, menos a vaga familiar do TCM.
Durante os dois mandatos de Rui como governador, o clima entre eles foi frequentemente permeado por tensões, resvalado no jogo familiar, que o diga a relação entre as antigas primeiras-damas da Bahia. Mesmo com a retórica de que “não há crise”, as disputas políticas recentes deixam claro que as feridas nunca cicatrizaram completamente.
Nas últimas semanas, tanto Rui quanto Wagner deram declarações tentando afastar os rumores de atrito. Ambos rivalizaram holofotes no evento do PSB, altamente prestigiado, diga-se de passagem, um ponto importante para Lídice da Mata (PSB). Nas entrevistas, Rui enfatizou que não interfere na gestão de Jerônimo, assim como Wagner não interferiu na sua: “Quem governa é quem foi eleito”, afirmou o ex-governador, em tom categórico.
A fala é coerente e aponta para um dos pilares do que deveria ser uma transição democrática de poder. Mas as circunstâncias mostram que, na prática, o controle ainda é disputado. Embora diga que não pede cargos ou indicações, Rui mantém uma influência política considerável em Brasília e na Bahia, recebendo prefeitos baianos e articulando alianças estratégicas. Por outro lado, Wagner se posiciona como o principal mentor político de Jerônimo, com quem mantém uma relação de maior proximidade.
O governador Jerônimo Rodrigues, escolhido como sucessor, está no meio desse fogo cruzado. Em muitos aspectos, sua gestão parece mais alinhada com Wagner do que com Rui, o que gera insatisfações no grupo ligado ao ministro da Casa Civil. Essa tensão se tornou ainda mais visível na preparação para as eleições de 2026, onde duas vagas para o Senado estarão em disputa. Desde 2022, o PT baiano tenta acomodar interesses divergentes, mas as rachaduras nunca foram tão evidentes.
Embora neguem publicamente, é inegável que há contendas entre os dois líderes petistas. A relação é conturbada e, por mais que ambos garantam maturidade, os movimentos nos bastidores indicam o contrário com seus agentes defendendo seus quinhões. No entanto, pelo poder e pela manutenção do projeto político que os uniu, nem Rui nem Wagner buscarão um rompimento. Não é interessante. Pelo contrário, preservarão as aparências e evitarão conflitos públicos. Afinal, no xadrez do poder, o silêncio e o controle são as melhores jogadas.