Por Victor Pinto
A política baiana acaba de presenciar um fato histórico: pela primeira vez em 190 anos, a Assembleia Legislativa do Estado da Bahia (ALBA) é presidida por uma mulher. Ivana Bastos, deputada experiente e de voz firme, agora ocupa interinamente o comando da Casa, após a queda de Adolfo Menezes determinada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). E não foi uma chegada qualquer. A transição foi marcada por um jogo de forças e reviravoltas que colocam a nova presidente no centro de uma mudança de rumos na condução da ALBA.
Ivana carrega uma estética que chama atenção. Loira, de olhos verdes, com uma postura sempre elegante, poderia facilmente ser subestimada pela aparência. Mas bastam poucos minutos de fala para perceber que há força no olhar e, principalmente, na palavra. Entre os 62 deputados estaduais, ela se destaca não apenas pelo pioneirismo, mas pela firmeza e habilidade política que a trouxeram até esse momento. A deputada não chegou ali por acaso, mas por uma trajetória consolidada dentro da Casa.
Seu comportamento nesses primeiros momentos no comando da Assembleia já mostrou um traço de caráter raro na política: a lealdade institucional. Mesmo podendo assumir de imediato todas as prerrogativas da presidência, Ivana decidiu não despachar da sala de Adolfo Menezes enquanto o mérito da reclamação constitucional que derrubou seu antecessor não for julgado. Um gesto que demonstra respeito e também um sinal de que pretende conduzir sua gestão com cautela e equilíbrio.
Mas, por mais que Adolfo Menezes tenha ido até Brasília para tentar reverter sua queda, a verdade é que a decisão do STF surpreendeu pela rapidez e pela contundência. A liminar do ministro Gilmar Mendes, baseada no entendimento de que uma segunda reeleição consecutiva era inconstitucional, encerrou o ciclo de Adolfo com uma canetada. Diante desse cenário, a reversão parece improvável e qualquer recurso pode acabar se arrastando por tempo demais para ter algum efeito prático. O mais curioso é que a ALBA insistiu nesse assunto mesmo sabendo que o resultado era previsível. A Casa decidiu desafiar o Supremo e pagou o preço.
Nos bastidores, o clima é de transição, mas sem sobressaltos. O próprio governador Jerônimo Rodrigues já sinalizou que a presidência da ALBA continua com o PSD, respeitando a proporcionalidade da base. Isso indica que o caminho natural será a sucessão automática de Ivana Bastos, sem a necessidade de uma nova eleição que traria mais desgaste para o governo e sua base aliada. E assim se desenha uma nova era para a Assembleia, com a primeira mulher no comando e a expectativa de uma gestão que deve se diferenciar das anteriores.
No entanto, por mais que Ivana tenha chegado à cadeira por seus méritos, sua ascensão teve dois agentes determinantes. O primeiro foi Hilton Coelho (PSOL), o deputado que provocou o STF e garantiu o holofote nacional para o entendimento jurídico que derrubou Adolfo Menezes. Sem essa iniciativa, a Assembleia poderia ter continuado empurrando o problema com a barriga. O segundo agente, talvez mais inesperado, foi o senador Angelo Coronel. Ele insistiu até o último momento para que seu filho, Angelo Coronel Filho, fosse o vice-presidente da ALBA, contrariando o desejo do governo e do próprio PSD. Essa resistência quase impôs uma derrota ao grupo governista e abriu um flanco perigoso dentro da base.
No fim das contas, a ALBA agora se vê diante de uma nova liderança que, ao que tudo indica, tem tudo para imprimir um ritmo diferente ao comando da Casa. Ivana tem habilidade para conciliar, mas também tem pulso para marcar território e fazer valer sua posição. Os próximos meses dirão se sua gestão será de continuidade ou de renovação. Mas uma coisa é certa: a Assembleia vive um novo tempo.
E, para quem gosta de coincidências, vale lembrar que, assim como o Oscar será decidido em pleno Carnaval, o destino da ALBA também será selado nesse período de festas. Resta saber se Ivana levará a estatueta de protagonista ou se ainda surgirão enredos inesperados no meio da folia.