Festejos juninos: fé, tradição e bilhões

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Por Victor Pinto

Junho na Bahia não começa na mera marcação de calendário. Começa, de fato, no acender das primeiras fogueiras, no cheiro de milho na panela, no som de uma sanfona no rádio de pilha ou nos paredões. Para muitos, é São João. Para mim, de modo especial, é Santo Antônio. Por devoção, sim. Mas todos estão juntos nos Festejos Juninos também com São Pedro. Antônio de Padua tem minha atenção, além da forte devoção, por estratégia: quem celebra o primeiro foge dos engarrafamentos de véspera do São João. E isso, meus amigos, já é uma bênção.

E falar em estrada é falar na cultura, na educação, no turismo. Ter uma noção da importância da mobilidade é saber que nos festejos juninos sua manutenção fica ainda mais exposta aos cidadãos que bancam impostos pesados para não ter um retorno esperado. Eu corro igual o diabo corre da cruz de engarrafamento e estrada precarizada.

Mas, brincadeiras à parte, os festejos juninos são mais do que cultura: são força econômica, resistência e expressão profunda da religiosidade popular. Em tempos de globalização e algoritmos, manter viva a tradição do andor, da trezena, da reza e do forró é afirmação.

O São João movimenta, sim, a economia. E aqui cabe uma memória pessoal. Lá na Goiabeira e em Boa Vista, povoados de Conceição do Coité, aprendi cedo que o São João não se resume a uma mera festa. É a quermesse da igreja, o licor caseiro, as bombinhas, o milho, o amendoim, tudo vira motivo para a economia girar.

Dados da Fecomércio-BA mostram os gastos e investimentos devem girar R$ 5,56 bilhões no mês de junho deste ano. Supermercados, sozinhos, abocanham a maior fatia. Famílias abastecem a despensa; comerciantes, os estoques. Tudo gira. Tudo aquece, literalmente com a fogueira.

Há aumento nos preços? Sim. O arroz subiu mais de 21%. Mas a mandioca caiu. A farinha de trigo também. O que importa é que a comida típica está posta — e a tradição também.

No setor de turismo, o termômetro é a rodoviária. Salvador, em junho, registra os maiores fluxos do ano. Em 2023, foram mais de 540 mil embarques e desembarques. O São João tem esse poder: leva o povo para o interior, aquece cidades pequenas, renova o vínculo com as raízes.

Outro ponto essencial dos festejos juninos na Bahia é o investimento em contratações locais e a valorização de bandas regionais, que mantêm viva a sonoridade do forró autêntico, do xote, do baião e das quadrilhas tradicionais. Ao mesmo tempo em que os grandes festivais musicais atraem multidões e movimentam as redes hoteleiras, bares, restaurantes e serviços, a presença de artistas locais no circuito junino garante renda direta para músicos, técnicos, produtores e pequenos empreendedores. Trata-se de uma engrenagem cultural que alimenta a economia criativa da cidade e do interior, dando visibilidade a talentos baianos e fortalecendo a identidade sonora dos festejos. Quando a gestão pública investe em palcos juninos, não está apenas promovendo entretenimento: está fomentando trabalho, circulação de dinheiro e sentimento de pertencimento.

Mais do que um mês, junho é um estado de espírito. É o momento em que fé e festa se encontram, em que o consumo respeita a tradição, em que a economia anda de mãos dadas com a religiosidade. A fogueira acesa é símbolo de tudo isso. Queimar lenha para iluminar a rua e, ao mesmo tempo, aquecer a renda da cidade. Esse é o poder do São João. Esse é o milagre de Santo Antônio. Essa é a conjunção de São Pedro. A conferir.