Por Victor Pinto
O tabuleiro político baiano vive um momento de reacomodação que vai muito além das disputas de alto escalão em Brasília ou Salvador. A correlação entre as articulações de Elmar Nascimento, o avanço do PRD e o surgimento de candidaturas de esposos e esposas de prefeitos e prefeitas revela um fenômeno que, embora antigo, se renova com nuances próprias da política contemporânea: o uso do capital político municipal para projetar figuras familiares em disputas estaduais ou federais.
Elmar, deputado federal e um dos mais influentes articuladores do União Brasil, tem se movido como um enxadrista experiente. Além de sua atuação direta no Congresso, ele busca ampliar a rede de influência por meio do fortalecimento de legendas que orbitam seu campo político, como o PRD — partido que, apesar de recente, já ocupa espaços estratégicos em municípios e faz federação com o Solidariedade para escapar da cláusula de barreira. A disputa interna pelo comando do PRD na Bahia, que envolve aliados e desafetos, não é apenas uma questão partidária; é uma briga por estruturas e palanques que, em 2026, podem decidir mandatos.
Nesse cenário, a tática de lançar cônjuges de prefeitos e prefeitas como candidatos (as) a cadeira da Alba ganha relevo. Trata-se de uma fórmula recorrente, mas que, no interior, assume força singular: o prefeito transfere seu prestígio e rede de apoios para um parente próximo, muitas vezes sem trajetória eleitoral própria, mas com visibilidade local garantida. É o caso recente de Vitória da Conquista, onde a prefeita Sheila Lemos (UB) anunciou a pré-candidatura de seu marido, Wagner Alves, a deputado estadual. A movimentação já provoca reações no campo aliado, com o deputado Tiago Correia (PSDB) recalculando rotas e o vice-prefeito Aloísio Alan (Republicanos) articulando a candidatura da própria esposa.
O que isso tem a ver com Elmar e o PRD? Muito. Essas candidaturas familiares não surgem no vácuo. Elas precisam de partido, tempo de TV, estrutura e alianças — ativos que dirigentes como Elmar controlam com habilidade. Ao influenciar legendas como o PRD, ele não apenas amplia seu campo de manobra, mas também cria possibilidades de acomodar candidaturas que, mesmo sem densidade política estadual, podem se eleger graças ao voto concentrado e ao coeficiente eleitoral.
O impacto local dessa dinâmica é profundo. Em cidades-polo, como Conquista, Conceição do Coité ou Teixeira de Freitas, a entrada de um cônjuge de prefeito na disputa pode dividir bases tradicionais, fragilizar deputados em exercício e redesenhar alianças históricas. Para partidos, o efeito é duplo: por um lado, garantem candidaturas competitivas e alinhadas ao grupo; por outro, correm o risco de inflar disputas internas e provocar rupturas.
Historicamente, a Bahia já viu movimentos semelhantes. Prefeitos que não podiam disputar reeleição ou preferiam manter controle político lançavam filhos, irmãos ou cônjuges como herdeiros eleitorais. A novidade é que, com a multiplicação de partidos e o endurecimento das regras eleitorais, esses nomes passaram a ser peças ainda mais valiosas para compor chapas proporcionais.
Nesse ponto, a articulação de Elmar com o PRD é estratégica. O partido, que nasceu da fusão entre PTB e Patriota, busca se firmar como alternativa para grupos que não encontram espaço em siglas maiores. Uma candidatura de “esposo de prefeita” ou “esposa de prefeito” pode trazer voto suficiente para ajudar a fechar quociente, ainda que a meta principal seja garantir um mandato específico.
O risco, no entanto, é transformar o jogo eleitoral num exercício de sucessão familiar que ignora debates programáticos e reduz a política local à manutenção de feudos.
Em resumo, Elmar e o PRD operam num ambiente onde as candidaturas de cônjuges de prefeitos são não apenas previsíveis, mas funcionais para estratégias de poder. A disputa em Vitória da Conquista é apenas um prenúncio do que se verá em 2026: alianças sendo redesenhadas, partidos menores ganhando relevância e o eleitor, mais uma vez, sendo cortejado por nomes que carregam o peso do poder municipal — não necessariamente a experiência para o exercício legislativo. A conferir.
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