Ajudar a escrever a história nas páginas da Tribuna

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Por Victor Pinto

Há jornais que informam, e há jornais que formam. A Tribuna da Bahia, que agora chega aos seus 56 anos, pertence à categoria que formam. Não é apenas um veículo: é uma escola. E quem passou por suas páginas, como leitor ou como jornalista, sabe do que estou falando.

Minha relação com a Tribuna começou muito antes da credencial de repórter. Começou lá em Conceição do Coité, com os recortes que viravam tarefa escolar. Aquele cheiro de impressão misturado à curiosidade infantil foi, talvez, o início de uma trajetória. Era o impresso como janela do mundo e a Tribuna, o espelho.

A adolescência chegou com o mesmo fascínio. Lia as páginas políticas com a vontade de entender o que movia o Estado. Lia os articulistas e sonhava em um dia dividir aquelas colunas. O destino tratou de concretizar isso quando, ainda na faculdade, recebi o convite para integrar a redação. Era 2014. De manhã, faculdade; à tarde, rádio; e no meio da correria, o prazer de bater matéria na velha redação da Djalma Dutra.

A Tribuna sempre foi um espaço de aprendizado. Trabalhar ali era entender que jornalismo é rotina, responsabilidade e ritmo. Era cobrir sessões, eleições e bastidores, mas também compreender que cada linha publicada carrega o peso da credibilidade. E é essa credibilidade que faz a Tribuna seguir viva num tempo em que o efêmero parece dominar tudo.

O jornal impresso pode ter perdido velocidade frente ao digital, mas nunca perdeu profundidade. Ele é pausa num mundo de rolagens infinitas. É o espaço onde o leitor pensa, compara e forma opinião.

Enquanto o imediatismo domina as telas, o impresso resiste como um exercício de memória e cidadania. A Tribuna da Bahia representa isso, pois o jornalismo que explica o fato, não apenas o noticia; que desafia o senso comum e preserva a pluralidade. E, sobretudo, que valoriza o ofício de escrever, editar e revisar como parte de uma tradição que não pode se perder.

Falo isso não apenas por afeto, mas por convicção. Trabalhar na Tribuna foi uma das experiências mais formadoras da minha vida. Foi lá que aprendi o peso de uma apuração, a força de um título e o valor de um texto enxuto. Foi lá que percebi que a Bahia, com sua complexidade política e cultural, precisa de vozes que a contem com equilíbrio e rigor.

Hoje, escrevendo novamente para o jornal, olho para essa história com respeito. Porque a Tribuna da Bahia é mais do que um veículo que sobreviveu ao tempo: é uma instituição da imprensa baiana. Resistiu às mudanças tecnológicas, às crises econômicas e à erosão da leitura e segue firme, porque ainda há quem precise de um jornal que não se dobra à pressa.

A notícia é empurrada por algoritmos e a desinformação se alastra em segundos por muitos, mas abrir as páginas da Tribuna é ainda valorizar o trabalho do impresso. É reafirmar que o papel do jornal com tinta no papel continua indispensável: registrar o presente com responsabilidade e olhar histórico.

Celebrar 56 anos da Tribuna é celebrar a Bahia que pensa, a que debate, discorda, escreve e lê. Que bom que esse jornal segue vivo, com tinta, papel e alma. E que bom, também, poder continuar aprendendo com ele.

Parabéns, Tribuna da Bahia. Que venham mais décadas de histórias, manchetes e ideias que ajudam a contar e compreender o nosso tempo.