Por Victor Pinto
Na Bahia, até um chapéu de vaqueiro vira peça de uma futura campanha. Um gesto simples, quase corriqueiro, ganhou corpo de provocação política. De um lado, o governador Jerônimo Rodrigues (PT) e do outro, ACM Neto (União Brasil), que usou o acessório em um evento no interior e acabou recebendo a alfinetada: “vaqueiro de playground”.
O que parecia brincadeira virou debate. O símbolo virou disputa. O chapéu, agora, é código.
É nessa arena da semiótica política que o embate se instala. O chapéu é mais que acessório: é identidade, é território, é narrativa. Quem o usa quer dizer algo. E quem critica, também. A política, afinal, vive de signos. E na política baiana, onde a cultura popular é elo vital com o eleitorado, cada símbolo carrega uma mensagem. Simples, direta, eficiente.
Jerônimo quis marcar a autenticidade. Neto, a versatilidade. A campanha de 2026 começou. Ainda sem números, sem programas, mas cheia de símbolos. Quem domina o imaginário, larga na frente.
O episódio expõe uma disputa antiga: a de quem fala melhor com o povo. No marketing político, isso é tudo. A apropriação de símbolos culturais é um recurso estratégico. É como dizer, sem dizer, que se está próximo do povo. Mas como todo símbolo, há sempre a chance de rejeição. Se parecer forçado, vira caricatura. Se soar natural, vira potência.
É por isso que o comentário de Jerônimo teve força. Ao chamar o adversário de “vaqueiro de playground”, não atacou diretamente a pessoa, mas a tentativa de construção de imagem. E ao fazer isso, lembrou ao eleitor que ali havia um embate entre o real e o encenado. Se foi justo ou não, é outro debate. Mas foi eficaz. Neto reagiu. A imprensa noticiou. O eleitor percebeu.
Mais do que um capítulo isolado, o episódio revela algo maior: a antecipação do embate de 2026. Os dois principais nomes da política baiana estão em campo. Testando narrativas. Afiando personagens. Ajustando estratégias.
E nesse jogo, cada detalhe importa. Tudo comunica. Tudo constrói. Tudo disputa. O vaqueiro virou símbolo. E o símbolo virou palco.
O eleitor, no meio disso, observa. Sabe distinguir o que é sentimento do que é marketing? Se encanta com a história bem contada? Quer ser visto, ouvido, respeitado. E, no fundo, quer sentir que aquele político entende de sua vida. A saga do chapéu não é sobre moda. É sobre pertencimento. É sobre narrativa. É sobre voto.
Porque, no fim das contas, política é isso: disputa por significado. Quem melhor contar a história, leva. E, por enquanto, o chapéu segue passando de cabeça em cabeça. Mas o couro ainda vai cantar. A conferir.