A Saúde no epicentro da disputa entre Wagner e Rui

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Por Victor Pinto

As mudanças no secretariado do governo estadual, sempre aguardadas com ansiedade no cenário político, desta vez trouxeram à tona um embate que vinha sendo ensaiado há tempos nos bastidores: a disputa de influência entre o senador Jaques Wagner (PT) e o ministro Rui Costa (PT). E o palco central desse embate é, sem dúvida, a secretaria da Saúde, uma das pastas mais estratégicas e de maior peso no governo de Jerônimo Rodrigues (PT).

A eventual indicação do advogado Tiago Campos, figura historicamente ligada a Wagner, promete redesenhar o equilíbrio de forças. Caso o nome de Campos prevaleça sobre candidaturas mais próximas ao grupo de Rui Costa ficará evidente a escolha de Jerônimo em alinhar-se mais diretamente — e talvez definitivamente — ao grupo liderado por Wagner. Essa decisão pode marcar um momento de inflexão importante no panorama político do estado.

Tiago Campos é advogado e, embora atue na área da saúde pública, não possui qualquer experiência em gestão pública de saúde, muito menos em gestão hospitalar ou na administração de unidades do Sistema Único de Saúde (SUS). Essa falta de experiência levanta preocupações quanto à capacidade técnica para comandar uma das pastas mais desafiadoras do estado.

Adélia Pinheiro seria uma opção mais qualificada do ponto de vista técnico. Médica, com pós-graduação em saúde pública, Adélia já foi secretária da Saúde. Para muitos observadores, uma escolha lógica e técnica penderia naturalmente para o lado de Adélia, dada sua formação e trajetória profissional e ligada mais a Rui.

Contudo, no universo político, critérios técnicos muitas vezes cedem espaço a alianças estratégicas. Nesse caso, o peso das conexões políticas de Tiago Campos com Wagner pode superar sua falta de preparo técnico para o cargo, caso Jerônimo Rodrigues opte por fortalecer sua aliança com o ex-governador.

Você se pergunta: e Roberta Santana? Excelente quadro. Altamente elogiada, mas com caminho pronto para a Casa Civil, resta definir o nome para sua substituição e Afonso Florence topar uma eventual vaga no Tribunal de Contas.

A pasta da Saúde desempenha um papel central na articulação política, dado o peso de seu orçamento e o impacto direto de suas ações junto à população. Quem controla a Saúde tem acesso a um espaço privilegiado de negociação política, com capacidade de influenciar prefeituras, parlamentares e lideranças regionais. Não à toa, a disputa pelo comando dessa pasta é tão acirrada.

Rui Costa, que foi governador por dois mandatos, sempre soube utilizar o poder da Saúde para ampliar sua base política, especialmente em regiões estratégicas do interior. Para Wagner, retomar o controle do cargo seria um movimento simbólico de reafirmação de sua influência. Embora tenha deixado o governo há mais de uma década, Wagner continua sendo um dos maiores articuladores políticos. A escolha de Tiago Campos, portanto, seria mais que uma simples indicação; seria um recado claro sobre quem está ditando os rumos do governo estadual.

No centro dessa disputa está o governador Jerônimo, que ainda busca consolidar sua identidade política. Ao longo do primeiro ano de mandato, Jerônimo tem demonstrado habilidade em equilibrar as forças que orbitam ao seu redor, mas as escolhas para o novo secretariado podem revelar uma mudança de postura.

Essa decisão, no entanto, não está isenta de riscos. Jerônimo pode acabar alienando parte do grupo político de Rui Costa, que ainda possui força e influência significativa dentro do governo. Além disso, a movimentação pode ser interpretada como um sinal de que o governador está disposto a sacrificar o equilíbrio interno em nome de uma aliança mais sólida com Wagner.

A Secretaria da Saúde, como fiel da balança dessa disputa, acaba ganhando um peso político ainda maior. A decisão sobre quem assumirá a pasta será lida como um indicador claro de qual grupo está em ascensão e qual está perdendo espaço.

Para a população, a disputa traz mais perguntas do que respostas. Enquanto os bastidores da política fervem, a expectativa é de que a Secretaria da Saúde, independente de quem assuma o comando, consiga manter a eficiência administrativa e o foco nas demandas reais da sociedade. Contudo, é inegável que os desdobramentos dessa disputa terão impacto direto sobre a gestão do estado e sobre os rumos das alianças políticas que moldarão o futuro da Bahia.

Entre o pragmatismo político e a manutenção do equilíbrio interno, o governador terá que escolher qual caminho percorrer. E, ao que tudo indica, a Saúde será o termômetro final dessa decisão.