Brasil: a saúde e a regulação

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Por Alessandra Nascimento
A saúde pública cada dia vai de mal a pior. O estado dos postos de saúde com a falta de gestão adequada na regulação me deixa embasbacada.

É surpreendente ver as filas para atendimentos nas unidades públicas de saúde e, mais ainda, ver a cara das pessoas de insatisfação e desesperação quando recebem a mesma resposta há meses: não há vagas na regulação.

A luta em Salvador reflete o que acontece em outras cidades brasileiras. O gargalo na área da saúde é um pesadelo sem data para terminar. Convivo com Epilepsia desde os 9 anos quando fui diagnosticada, mas sempre tive atenção via plano de saúde. 

Os medicamentos são bastante caros e passei com o tempo a buscá-los em farmácias dos postos de saúde, mas, desde o ano passado, quando sai do plano particular e passei a recorrer ao SUS não apenas para medicamentos, mas agora para atenção médica me deparo com a surpreendente realidade de não conseguir uma consulta com neurologista.

O mais surpreendente é se escolher meses e cores para tratar das doenças neurológicas e psiquiátricas.  A da epilepsia, por falar, é o roxo simbolizando a lavanda, tendo 26 de março como dia da Conscientização.

Se discute em sociedade o mais que atrasado reconhecimento das necessidades de pessoas com deficiências ocultas e nelas me enquadro, mas me surpreendo com a burocracia e a ausência de tratamento público adequado.

Minha peregrinação em Salvador não tem data certa para parar. Resiliência, luta, coragem, e ouvido para escutar histórias de pessoas que passam por situações similares a minha e até mais graves. Por sorte estou na fase do controle. Mas há momentos que simplesmente levantar da cama é perigo.

É como se um choque elétrico percorresse o meu corpo me tirando do ar e quando acordo geralmente estou no chão.  Nas fases mais graves o resultado foram joelhos quebrados. Eu bem sei o que é a fase de crise. Como conheço a pré-crise: ansiedade, falta de sono, depressão, …

Esses sintomas valem ouro para que pessoas como eu possamos identificar quando a “corda tá esticada” e dar uma “parada sadia”.  Mas é preciso controle, remédio, observação, apoio psicológico.

Como jornalista estou vivendo na pele uma nova jornada: a do exercício da paciência e da constante observação. De funcionários atenciosos nos postos da capital baiana à frieza do sistema. Da comoção dos profissionais à passividade de dirigentes públicos. O lado da insegurança, do desamparo, da tristeza em sentir-se como um número de fins estatísticos só lembrado em ano eleitoral.

Minha saga iniciou-se em janeiro quando desde então me debato em conseguir um atendimento com neurologista e psiquiatra. Epilepsia sem controle é tiro no pé.

A primeira dificuldade foi conseguir o acesso à unidade básica de saúde próxima de minha casa. Há dias específicos para apresentar e realizar a solicitação de registro. Engana-se quem pensa que vai entrar e ser logo atendido. Não é assim. Você passa por uma espécie de acolhimento em que apresenta seus documentos e os de quem mora com você, seu cartão SUS, comprovante residencial e então recebe as informações dos dias aos quais será aberta a agenda de marcação da consulta.

No dia de marcação o ideal é chegar logo cedo. Até para conseguir marcar horário. Passando pelo médico generalista segue a nova luta: agenda com os médicos especialistas. Nessa hora a coisa começa a esquentar. Na minha última tentativa em marcar com o neurologista me deparei com uma senhora de seus 68 anos com um caso sério no sistema urinário que requer atenção urgente. O odor de urina sai nos poros e ela me disse que já leva 11 meses sem conseguir o urologista.

Descrever a cara dela com a negativa na marcação não dá. Mas é inacreditável o poder público não perceber a inoperância da regulação para atender a população. É surpreendente a incapacidade humana de exercer a empatia.

Quanto mais o tempo passa mais aumenta a possível gravidade da doença. Se é para falar em números quanto mais o tempo passa mais o custo sobe. Me deparo com algumas perguntas sem respostas: Há ausência de médicos especialistas? Há falta de gestão na regulação? Por que não se percebe que doenças que podem ser controladas através de medicamentos e terapias representam economia na saúde e maior grau de equilíbrio emocional para as famílias?

É tão difícil ao Poder Público cumprir com o seu dever em dar saúde à população?  Esse dever está assegurado em nossa Constituição. Agora com a Lei 14.624/2023, no qual a Epilepsia, como outras doenças, são classificadas como Deficiência Oculta, é importante compreender as necessidades de quase 8% da população que sofre de crises convulsivas, mas têm nos medicamentos e na atenção neuropsiquiátrica as ferramentas mais eficazes para o controle das crises e conseguem ter uma vida normal, exercer suas funções laborais e manter-se com dignidade.

Estou citando uma parcela da população – especificamente aqueles que convivem com a epilepsia – mas é claro que há uma série de deficiências ocultas e demais doenças que requerem cuidados especiais e tratamentos igualmente urgentes como cânceres, cardiovasculares, dentre outras.

Trata-se do segundo artigo que escrevo sobre a temática da saúde. Não custa lembrar que estamos em ano eleitoral. Mudança de poder municipal ou renovação. Qual é o comprometimento dos que estão se candidatando com a saúde?  A saúde que o seu município oferece à população está atendendo às expectativas? Você realmente procurou saber os projetos de quem está se candidatando?

Encerro por aqui, mas a história não. Estamos em ano de eleição e precisamos acompanhar de perto o que os candidatos ao poder municipal pretendem desenvolver sob a forma de projetos se eleitos. Fica a dica!

Até o próximo!

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Alessandra Nascimento é editora-chefe do Site Café com Informação; Articulista do Jornal Tribuna da Imprensa, do Rio de Janeiro; Correio Regional e Portal Noticia Capital; Ex-Correspondente Internacional