Conceição Paranhos e a invenção da palavra aos 80 anos

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Por Gulfrancisco
Ainda inédita em livros, participa com cinco poemas na Moderna Poesia Bahiana – Antologia, Tempo Brasileiro, coleção Tempoesia -7, Rio de Janeiro, 1967, apresentação de Walmir Ayala, que diz ser sua poesia:

            Longas pinceladas, violento transe no tempo. Indefinida, escorrendo. Impropriedade em certas invenções “desbem”; impropriedade em certas expressões:

                Engendrou-se um mundo

                e ele se formou velho e roto.

                pariu-se um mundo

                e ele nasceu agonizante.

                Depoimento descosido com alguns rasgos de heroísmo e boa intenção.

            A obra de Maria da Conceição Paranhos, integra um valioso guia para a justa estimação dos valores que realiza a criação literária baiana. Seu primeiro livro, Chão Circular (Prêmio Arthur de Salles, 1969), foi publicado pela Imprensa Oficial da Bahia, um ano depois. Neste livro, Conceição ama o silencia, a vida e a morte. Creio que nenhum poeta baiano desta fase, tenha logrado como ela uma idealização tão absoluta da morte. Porque o homem nasce com sua morte, e o destino do homem se cumpre nesta conjugação da essência de sua vida. Pois, a ideia da morte está presente sempre em sua obra, que se associa frequentemente a ideia do amor Com certeza o leitor reconhecerá como resultado as influências da tradição e esperança, da sociedade e personalidade, envolvendo um diagnóstico e um prognóstico.

            É extraordinário estabelecer categorias estéticas, porém não se pode prescindir delas para julgar com certa ordem a poesia e a arte, desta época caótica, pois a arte tem perdido ante tudo sua unidade essencial, e em cada elemento, Conceição Paranhos tem reivindicado sua autonomia. ABC Re-Obtido, seu segundo livro, 1974 é uma obra que excita a imaginação do leitor e por isso, é ilimitado, ou seja, de demarcações de fronteiras, com sóbria exatidão. Por tudo é importante uma leitura alenta deste livro, em que a autora consegue transmitir uma das mais significativas visões poéticas, de sua primeira fase. ABC…é uma pequena obra de arte, em volume, a incorporar o escassos patrimônio da literatura baiana, que busca alcançar a universalidade, um vigilante suporte de todas as estações.  Conceição Paranhos com seu segundo experimento, incorpora nosso quadro como uma poeta admirável, entre as quais, exprimi todos os seus anseios num equilíbrio rítmico, puro, simples e comovente.

            Maria da Conceição Paranhos se utiliza da sua experiência acadêmica, nobre e requintada e registra toda a sua evolução do aprendizado da Poética aristotélica, introduzindo elementos anônimos que reforça a ideia encenada de saudades, neste mundo enlouquecido. Na busca de valorização de cada vocábulo, impondo uma linguagem adequada para cada verso, Paranhos enriquece incessantemente as páginas do seu ABC Re-Obtido na literatura baiana. Nestes dez anos de fazer poético, tudo ao seu redor oscila para melhor permanecer vivo, sempre atenta aos perigos existentes do prazer infinito:

                                    Nove, mudando o fato

                                    matinal

                                    da vida

                                    ultrapassando o habitual limite

            A poeta põe em circulação as evidências da absorção exaustiva, que brota da conexão insólita, diluindo assim um traço marcante para caracterizar a dualidade de sua poesia. A autora busca em todas as formas simbólicas do seu universo místico, soluções para veicular uma intenção fantasiosa. Pela existência de elementos já referidos, que surge como exigência da ênfase dada a cada palavra, para dirigir o designo de comunicar em absoluto e sancionar a inevitabilidade.

            Neste sentido, o jogo de oposições e contraste predominante dentro do processo poético, numa declarada intenção, entre a luta criadora, inspiração e consciência que resulta num equilíbrio de fortes imagens. São vibrações poéticas subvertendo os valores espaciais e temporais, cifrando-as no silêncio da leitura, permitindo-nos inúmeras investigações desses valores da nossa época, a que se acha submetido. E tudo se processa num plano paradigmático.

            Com a perpetuação da ordem burguesa que se irradia a rodopiar no turbilhão de incertezas, desfiguradas pelos efeitos das viventes paisagens. Na ordem inversa do trágico desencontrado, a poesia de Conceição Paranhos encontrou o meio de expressão literária mais sucinta e eficaz.

                                               Há uma irmandade

                                               que vem com o adeus

                                               e meu passo notifica

                                               o caminho

                                               a ida

                                               a volta

                                               possuir as ruas

                                               é continuar a viagem

            Maria da Conceição Paranhos, divide seu tempo dedicando-se ao magistério universitário de literatura na Universidade Federal da Bahia e na Fundação Cultural do Estado da Bahia, onde vem dirigindo já alguns anos as oficinas literárias, num esforço incomparável. Na tentativa de melhorar o aprendizado dos escritores baianos, pois há muito tempo, vinha preocupada com a ideia da necessidade de uma atuação maior de nossos escritores. Esperando corrigir novas tentativas de renovação cultura neste campo, a professora Conceição Paranhos desafia mais uma vez sua capacidade, de maneira a dá dignidade a seu trabalho intelectual.

            Paranhos fez parte de várias Antologias, algumas como: Moderna poesia bahiana (1967); 25 poetas de 1633 a 1968 (1968); Doze contista da Bahia (1969); Festa da Bahia (1970); Breve Romanceiro do Natal (1972); Poetas da Bahia em Braille (1976); Revista Hera (1993), A Poesia baiana no século XX, org. Assis Brasil (1999); A Paixão Premeditada, org. Simone Tavares (2000). Além de publicações em jornais e revistas especializadas tais como: Revista Convivium; Revista Estudos, da UFBA; Revista da Academia de Letras da Bahia, Revisita Exu; Revista da Bahia. Paranhos prossegue a sua trajetória poética, porque todo artista é filho do seu tempo e o interprete das inquietudes que a vida nos impõe. [1]

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                                               Post-scriptum

            Antes de me transferir em janeiro de 1996 para Aracaju – SE, onde assumiria a chefia e coordenação do Departamento de Letras, da Universidade Tiradentes-UNIT, assistir em 17 de novembro de 1995 no Auditório da Biblioteca Central da Universidade Federal da Bahia – Campus de Ondina, mais uma edição “Com a Palavra o Escritor”, escritora Maria da Conceição Paranhos, apresentadora Celina Scheinowitz, projeto da Fundação Casa de Jorge Amado/UFBA.

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            Poeta, ficcionista, crítica literária e de arte, tradutora e professora, nasceu em Salvador-Bahia, a 8 de junho de 1944, viveu parte da infância em Vitória da Conquista. Aos dezesseis anos publica seus primeiros poemas na imprensa baiana. Maria da Conceição Paranhos é formada em Letras, cursou o Bacharelado na Faculdade Santa Úrsula da PUC do Rio de Janeiro e a Licenciatura, pela Universidade Federal da Bahia. O Doutorado foi concluído na Universidade da Califórnia, em Berkeley.

            Publicações –

            Chão Circular, 1969

            ABC Re-Obtido, 1974

            Os eternos Tormentos, 1986

            As Formas curtas da Lírica, 1986

            O mundo ficcionalizado: dois ensaios, 1990

            Adonias Filho: representação da forma dramática, 1990

            Doutor Augusto partiu, 1995

            As esporas do tempo, 1996

            Delírio do Ver, 2002


GILFRANCISCO: jornalista, professor universitário, membro do Grupo Plena/CNPq/UFS e do CPCIR/CNPq/UFS. Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Sergipe –gilfrancisco.santos@gmail.com

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