Contagem regressiva

  • Post category:ARTIGOS
No momento você está vendo Contagem regressiva

 Por Joaci Góes

            Para a arquiteta e amiga Mila Peixoto!

            Não há memória, na vida política brasileira, de um governo que tenha chegado tão cedo ao fim de suas possibilidades de recuperar-se do desgaste, perante a opinião pública, quanto o atual do Presidente Lula, considerado, por muitos, como a reencarnação do personagem Macunaíma de Mário de Andrade, um dos organizadores da Semana de Arte Moderna, em 1922. A recente excursão presidencial a países asiáticos não foi capaz de reduzir a tendência de queda da aprovação e de aumento da reprovação do Governo Lula.

            Sem qualquer prejuízo para a sua rocambolesca biografia, que o eleva entre as mais marcantes personalidades do País, o Lula-3 vive o Suplício de Tântalo, por roubar os manjares divinos, servindo, aos deuses, a carne do próprio filho. No caso de Lula, roubando a esperança do povo, servindo-o, como compensação, da sedução de sucessivas promessas não cumpridas, ao tempo em que transfere para terceiros suas próprias fragilidades, não raro, inconfessáveis. Em lugar do Tártaro, onde Tântalo passava sede, sem conseguir beber a água cristalina em que esteve imerso, até o pescoço, e fome, sob pomares plenos de frutos deliciosos, Lula vive o desapreço das massas populares que, por três vezes, o guindaram ao posto mais alto da República, ao tempo em que o Brasil vive sua condição de pária internacional, graças aos dissonantes discursos do casal presidencial, em sua proverbial coprolalia político-ideológica, a mais grave das quais contra as principais lideranças norte-americanas, alvo preferencial das ofensas lulo-petistas, obstáculo adicional para nossa diplomacia comercial vencer os eventuais excessos do tarifaço trumpista.

            No atual momento, Lula, acossado por crescente rejeição interna, dedica-se a périplos internacionais, onde é recebido com magras festividades de preceito, agravadas pela intempestiva e insensata precipitação de querer figurar como cão de guarda, a serviço dos BRICS, em seu propósito de destronar a primazia norte-americana e europeia. Não deu outra: o crescente isolamento dentro do próprio continente, posição desconfortável e inédita em nossa História.

            Eleito com o apoio ostensivo do Judiciário Brasileiro, em ominosa coalizão repudiada pelos mais elementares valores democráticos, o Presidente, que não distingue entre poder de autoridade e poder de competência, finge não perceber seu crescente isolamento político, ao tempo em que avança a contagem regressiva para o acerto de contas nas urnas que o consagraram e agora o ameaçam de oprobrioso sepultamento político nas eleições do próximo ano.

            Doravante e em ritmo cada vez mais acelerado, vamos assistir ao desembarque dos que lhe deram envergonhada maioria, como a melhor opção entre o que consideravam serem dois males para o Brasil: Lula e Bolsonaro. Com o fervoroso ataque aos ladrões de celulares, ora em fase de acelerado processo de aprovação no Congresso Nacional, Lula tenta recuperar-se do insensato apoio verbal que deu aos praticantes desse crime que tanta inquietação e mortes tem trazido às nossas populações urbanas. Como quem caminha em areia movediça, que mais afunda quanto mais tenta avançar, Lula tende a perder parte do ostensivo apoio que recebe das populações carcerárias brasileiras, representativas do mais expressivo quinhão do seu eleitorado, conclusão a que chegamos quando multiplicamos por familiares e amigos os 80% da população carcerária brasileira que o elegeu, consoante reiteradas pesquisas de opinião. Recorde-se que o STF, historicamente, uma das mais respeitadas instituições nacionais, na atualidade, conta com, apenas, 12% de apoio da sociedade brasileira, provavelmente, abaixo do nível de aprovação do próspero crime organizado que acua a população nacional. Pobre País!

            O inspirado diagnóstico-vaticínio do jornalista Roberto Pompeu de Toledo, faz anos, nas páginas de Veja, segundo o qual o Brasil avança para passar de um povo tolerante com a corrupção em um povo, em si mesmo, corrupto, está a um passo de sua consumação.

          Senhor: Tende piedade de nós!