Por Zulu Araújo
No dia 21 de março do corrente ano – (Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial), publiquei, aqui na Revista Raça, um artigo intitulado – “Cotas raciais: Não é sobre ser negro ou não e sim ser justo ou não! Nesse artigo, eu chamava a atenção para uma campanha sórdida que estava sendo articulada por grandes veículos da imprensa nacional (porta-vozes da elite brasileira), no sentido de suprimir as Cotas Raciais, do ensino superior brasileiro.
As razões do alerta eram várias. Iam desde a exacerbação dos erros (menos de 1%), cometidos por algumas comissões de heteroidentificação das universidades brasileiras, no processo de seleção, à inconformidade latente da nossa elite e dos seus porta-vozes, em admitir que O Programa de Ações Afirmativas, instituído no Brasil, a partir do ano de 2004, para o combate ao racismo na educação superior, deu certo.
Convenhamos, parece que o racismo da elite brasileira é algo verdadeiramente patológico. Não adianta dados, estatísticas, estudos ou pesquisas que atestem que o caminho mais curto para a superação das desigualdades raciais no Brasil são as ações afirmativas.
Não adianta afirmar que mais de um milhão de jovens negros foram beneficiados, que não houve qualquer perda de qualidade no ensino superior, que não houve qualquer conflito de grande monta nas universidades e que, pelo contrário, as cotas raciais no ensino superior são um sucesso.
Estão à cata de pelo em ovo!
A época, afirmei: “querem acabar com as cotas raciais. Independente do seu sucesso, de ter beneficiado mais de 1 milhão de jovens negros/as e de ter democratizado o acesso ao ensino superior. Eles querem acabar com as cotas, do mesmo modo que querem acabar com os direitos humanos, com os direitos dos homossexuais e os direitos das mulheres, como a licença maternidade.
Ou seja, é algo insano e absurdo. Mas, que continua na pauta. Senão vejamos:
Semana passada (06/04), vários veículos de comunicação divulgaram uma pesquisa realizada pelo Datafolha sobre o Sistema de Cotas no Brasil, onde 83% dos entrevistados afirmavam ser favoráveis ao sistema. Aparentemente um sucesso.
Porém, havia uma novidade, à qual foi dada grande ênfase – apenas 42% dos entrevistados eram favoráveis ao sistema de cotas raciais vigente no país. 41% (quase metade), eram favoráveis as “cotas sociais”, ou seja, deveriam beneficiar alunos das escolas públicas, sem levar em conta a questão racial. Como se houvesse uma grande distinção nas escolas públicas, entre pretos e pobres.
Na verdade, o que está implícito nessa pesquisa é que, nenhuma política que vise alterar o status quo vigente é correta. É como se todas elas estivessem impregnadas do veneno mortal da igualdade, em particular as políticas de ações afirmativas.
Nos dá a impressão de que parte da elite brasileira, continua sonhando de olhos bem abertos com o retorno ao passado, como se a vida pudesse ter remake ou vídeoteipe.
É como se houvesse uma determinação divina para que o acesso à universidade, aos melhores empregos, aos cargos de direção do país e às nossas melhores terras sejam exclusivamente dos mesmos que ao longo dos últimos quinhentos anos se locupletaram com as riquezas de nossa nação ao custo da escravização, da exclusão e da discriminação da maioria do povo brasileiro.
Esquecem, propositalmente, de que o Brasil só será uma democracia de fato e de direito quando a fraternidade, justiça e igualdade for para todos.
Toca a zabumba que a terra é nossa!