Faltam 278 dias: Você já está preparado para o meio do caminho?

No momento você está vendo Faltam 278 dias: Você já está preparado para o meio do caminho?

Por Victor Pinto

O calendário insiste em lembrar: 2025 se despede e 2026 já ocupa espaço demais no debate público. Faltam 278 dias para o primeiro turno das eleições, mas a sensação é de que a disputa começou há muito tempo. E até lá, no meio do caminhão haverá uma campanha oficial, haverá uma campanha oficial no meio do caminho. Porém, a política deixou de ser sazonal. Ela se tornou permanente, atravessando conversas de bar, redes sociais, almoços de família ou ceias (que o diga o Natal) e relações profissionais. O tempo eleitoral foi esticado e com ele, os nervos.

O próximo ano será de Copa do Mundo, mas também de eleição. E, no Brasil, essas duas paixões raramente convivem de forma serena. Se o futebol sempre dividiu torcidas, a política passou a dividir algo mais delicado: afetos e vínculos. Já não se discute apenas projeto ou modelo de gestão. Discute-se pertencimento.

Na Bahia, esse ambiente ganha contornos próprios. O estado tem tradição de disputas eleitorais intensas, lideranças com forte capilaridade e um eleitorado atento ao jogo político. Salvador e o interior (e nós interioranos sabemos bem disso) vivem a política no cotidiano: nas rádios locais, nas praças, nas igrejas, nas feiras livres e, sobretudo, nos grupos de WhatsApp. O debate é vivo, mas está bem áspero.

Historicamente, a política baiana sempre foi marcada por embates duros. Isso, por si só, não é um problema. Eleições acirradas fazem parte da democracia e ajudam a mobilizar o interesse público. O risco surge quando a disputa deixa de ser política e passa a ser no campo pessoal. Quando o adversário vira inimigo, e a divergência passa a ser tratada como defeito de caráter. Péssimo. 

Esse processo não é exclusivo da Bahia, mas aqui ganha a intensidade do tempero do dendê. A antecipação da campanha, a exposição constante nas redes e a lógica do engajamento criaram um ambiente em que a indignação vale mais do que o argumento. A forçação de barra jornalística ou a ausência, no mesmo campo, de apontamento de defeitos também ajudam a turbinar isso.

Em Todos contra Todos: o Ódio Nosso de Cada Dia, Leandro Karnal descreve como o ódio deixou de ser exceção para se tornar método. Não se trata apenas de sentimentos individuais, mas de uma engrenagem coletiva que transforma ressentimento em identidade política. Discordar já não basta; é preciso deslegitimar. Até porque ódio virou instrumento de engajamento. Inclusive, a leitura desse livro é ótima, recomendo. 

À medida que 2026 se aproxima, a tendência é que esse clima se intensifique. A eleição promete ser disputada, com campos bem definidos e pouco espaço para neutralidade. Isso, novamente, não é um problema em si. O desafio está em evitar que o debate público seja sequestrado por emoções exacerbadas, pelas paixões cegas. 

Talvez o maior teste do próximo ano não seja apenas eleitoral. Seja um teste social. A capacidade de conviver com a diferença, de sustentar o dissenso sem romper laços, de disputar sem destruir. A política continuará sendo confronto , como sempre foi. A pergunta que fica, a 278 dias da eleição, é se ela ainda conseguirá ser também diálogo. Repito a pergunta do título: você já está pronto? A conferir! Feliz ano novo!