Por Victor Pinto
A criação da federação entre União Brasil e Progressistas (PP), anunciada no fim de abril, movimenta a política nacional e, particularmente, desorganiza o tabuleiro baiano. Na minha opinião é uma reconfiguração estratégica que recoloca ACM Neto no centro das articulações, reorganiza a oposição ao PT e impõe uma jogada de pá de cal nas paqueras do governador Jerônimo Rodrigues com o PP.
Na prática, a federação impede que PP e União Brasil façam alianças distintas em estados como o nosso, onde o governador petista tentava resgatar pontes com setores do PP desde o resultado das eleições de 2022. Essa costura agora desmorona. E, com ela, ruem os planos de Jerônimo para uma base mais robusta e uma governabilidade menos arriscada de olho na reeleição.
A federação, unificado até 2030, oferece mais do que tempo de TV e fundo partidário. Na Bahia, consolida o papel de Cacá Leão como principal articulador do novo bloco em detrimento a Mário Negromonte Júnior, que ainda ensaiava uma reaproximação com o governo. Com Cacá alinhado a Neto, a lógica da federação favorece quem já vinha costurando alianças de oposição — e sela o PP baiano no campo adversário ao governo estadual.
Jerônimo, que já convive com ruídos internos em sua base — com o PSD inquieto e o MDB em compasso de espera — terá agora que administrar mais esse revés. Não se trata apenas de perder o PP. É perder o acesso a uma capilaridade municipal poderosa, construída em décadas pelos Leão, Negromonte e outros caciques do interior. A máquina petista continua forte, mas não é autossuficiente para conter a organização crescente da oposição.
O nascimento da União Progressista é um resgate político. Depois de ser tratado como carta fora do baralho desde a derrota para Jerônimo em 2022, ACM Neto me parece que começa a retomar o fôlego. Ainda sem assumir pré-candidatura, volta ao jogo com um trunfo institucional, guardadas as devidas proporções, de peso: a liderança de uma federação com mais de cem deputados, força no Senado e seis governos estaduais.
Na prática, o que se viu nos bastidores foi uma comemoração discreta. Neto se consolidou como o nome que a oposição baiana deve seguir em 2026, seja como cabeça de chapa ou como fiador de um novo nome. Já Jerônimo, que vem apostando em manter o PP no entorno palaciano, vê-se forçado a redesenhar sua estratégia para acomodar aliados órfãos da aliança que não se confirmou. O PDT, que conseguiu tomar do grupo netista também neste mês, pode ser esse caminho, por exemplo.
É importante notar que a federação, embora imposta por diretrizes nacionais, foi uma costura com DNA baiano. Foi a Bahia que deu os sinais mais firmes de como a estrutura poderia operar na prática. Cacá Leão e Neto agiram em uníssono. O resultado é que a oposição, antes fragmentada, agora tem um comando mais claro.
Resta saber se essa organização partidária se converterá em votos. A força do lulismo na Bahia ainda é robusta, e o petismo tem uma militância orgânica difícil de ser batida no corpo a corpo eleitoral. Mas a disputa está posta. O tabuleiro se mexeu. A federação União Progressista é, na Bahia, é um novo ponto de partida. E, para Jerônimo, um sinal claro: a oposição está viva, reorganizada e pronta para jogar. A conferir.