Por Gerson Brasil
(“… não interessa tanto o objeto, apenas pretexto, mas antes a paixão; e eu acrescento que não interessa tanto a paixão, apenas pretexto, mas antes o seu exercício. ” (Novas Cartas Portuguesas)
Todos os dias cartas não se deixam ser lidas, algumas fingem que o endereço está errado, mas uma observação mais atenta descobre que a letra (r) está depois do (a), provocando ruído insuportável, estranho e irritando a compreensão, de baixa tolerância, porque amanhã é feriado e os preparativos começam bem cedo, quando tarefas são adiadas, dando lugar a uma incontida alegria, compartilhada, com imensa devoção e religiosidade, na comunhão que deus existe e y esto garantiza la existência de ese bendito día.
Em dias que se seguiram, a letra está borrada, dificultando a decifração do número da casa, do apartamento, de modo habilidoso escondido na rua que não encontra um lugar para habitar. Certos lugares só existem porque a literatura habla. Mas os leitores ficam em dúvida, afinal não há garantia de que “Tica se había vuelto a Nueva York, Johnny había vuelto a Nueva Yorque”.
Afinal, trata-se de um relato, como as cartas. É presunçoso admoestar as cartas e os correios, enquadrá-los num conluio, para furtar um grande amor, ou o nome do assassino. E se o amor não é o desejado e a grafia da escória estiver errada? Como Penitenziagite!?
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Jornalista/Articulista