A enorme quantidade de fake news espalhadas nas redes sociais a respeito da tragédia que atinge o estado do Rio Grande do Sul, fez com que o presidente do Senado Federal, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) defendesse mais uma vez a implementação de um marco legal para as plataformas digitais.
“Passou da hora de haver um mínimo ético legal nas redes sociais”, desabafou Pacheco. “Se não puder ser pelo bom senso e educação, que seja pela lei”, completou o senador em declaração ao blog da jornalista Daniela Lima, no G1.
Para tratar da gravidade da disseminação de fake news que prejudica até mesmo o trabalho das equipes de resgate que salvam vidas em solo gaúcho, na sexta-feira (10), a Advocacia-Geral da União (AGU) realizou uma reunião com representantes das principais plataformas digitais para propor medidas de combate à desinformação envolvendo as enchentes que atingem o Rio Grande do Sul.
Durante a reunião, a AGU fez uma proposta de atuação conjunta com as empresas que operam as redes sociais para criação de um canal direto para retirada de conteúdos com desinformação sobre a tragédia.
A proposta será analisada pelas empresas, que deverão manifestar concordância ou não em uma nova reunião que será realizada nesta semana.
A reunião contou com a presença de representantes do YouTube, TikTok, Kwai, Spotify, Facebook, Instagram e WhatsApp, além de autoridades da Polícia Federal, do Ministério da Justiça e Segurança Pública e da Secretaria de Comunicação da Presidência da República.
De acordo com Jorge Messias, ministro titular da AGU,a classificação do conteúdo com desinformação será feita em parceria com agências de checagem, que contam com o
trabalho de jornalistas profissionais.
“Temos identificado nos últimos dias um aumento muito preocupante de conteúdos desinformacionais que têm abalado a atuação das forças de segurança pública nos trabalhos de pronto-atendimento, salvamento e auxílio à população do Rio Grande do Sul”, afirmou Messias.
Jorge Messias fez um alerta a respeito dos prejuízos causados pelas informações falsas.
“As fake news têm atrapalhado, primeiramente, a ação do poder público, porque a população tem recebido informações inautênticas e inverídicas em relação a ações que estão em andamento agora mesmo no Rio Grande do Sul.” enfatiza o advogado-geral.
Na quarta-feira (8), a AGU entrou na Justiça Federal com pedido de resposta contra o coach Pablo Marçal em razão de postagens com informações falsas sobre a atuação das Forças Armadas na prestação de auxílio à população gaúcha.
Sob coordenação da AGU, o governo federal já montou uma sala destinada ao monitoramento e combate às fake news em relação à crise provocada pelas enchentes no Rio Grande do Sul.
A sala é composta por uma equipe formada por representantes da AGU, Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Ministério da Justiça e Segurança Pública e Polícia Federal.
Mentiras atrapalham decisões
Em reportagem da Agência Brasil, de Vitor Abdala, a pesquisadora da Universidade Federal Fluminense (UFF) Thaiane Moreira afirma que fake news prejudicam tomada de decisão por afetados em catástrofe. A pesquisadora é parte de um grupo de pesquisadores dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT) que acompanha a divulgação de mensagens sobre o desastre climático do Rio Grande do Sul nas redes sociais.
Desde teorias da conspiração sobre o motivo do desastre, até boatos estapafúrdios, de cunho fundamentalista religioso, relacionando a apresentação de uma cantora pop internacional no Rio de Janeiro à perda de vidas nas enchentes de várias cidades gaúchas.
Mas alguns dos principais alvos da campanha de desinformação promovida nas redes sociais são as instituições públicas. São notícias falsas que, desde os primeiros momentos da tragédia, buscam desacreditar governos e órgãos públicos.
São fake news sobre caminhões sendo impedidos de entrar no estado com donativos às vítimas, sobre a demora do governo federal em agir no RS e sobre alguns empresários estarem atuando mais que governos em prol dos gaúchos.
O levantamento ainda não foi concluído, mas já é possível perceber um padrão nas fake news sobre a tragédia. “[Nesta tragédia] a desinformação diz respeito sobretudo a discussões políticas, acusações contra o governo federal, contra o governo estadual. Principalmente, e aí eu acho que é um ponto extremamente preocupante, a questão da contestação da eficácia e da atuação das instituições. A gente tem visto o quanto as instituições, que têm sido muito atuantes, estão sendo descredibilizadas nesse processo”, afirma Thaiane à Agência Brasil.
“Antes das redes sociais, a gente tinha alguns atores que eram legitimados para apresentar uma informação que fosse considerada de credibilidade. Eram jornalistas, comunicadores públicos, divulgadores científicos, agentes públicos. Com as mídias sociais e a reconfiguração da forma como nos comunicamos, hoje em dia, emitir uma opinião é motivo de autoridade. Qualquer um que tenha uma certa visibilidade nas redes sociais ganha uma certa autoridade, emitindo sua opinião apenas baseado nas suas experiências pessoais e no achismo”, destaca a pesquisadora.
Agências monitoram mentiras
Desde o início das enchentes no Rio Grande do Sul, notícias falsas e postagens fraudulentas nas redes foram desmentidas para o pronto restabelecimento da verdade dos fatos. A proliferação de desinformação, notícias falsas e mentiras nas redes sociais em meio à maior tragédia climática que ocorre no Rio Grande do Sul tem dado muito trabalho para as agências de checagem e para as autoridades governamentais em todas as esferas de poder.
Fake news não somente desinformam e provocam pânico nas pessoas que já sofrem com a calamidade, como também atrapalham o trabalho das equipes de resgate e voluntários em todas as cidades afetadas pelas enchentes.
São vídeos e fotos fora de contexto e com imagens e montagens toscas, até mesmo de catástrofes antigas em outros países, além de postagens que são verdadeiras fraudes e declarações criminosas a respeito do trabalho que vem sendo feito pelos órgãos federais para socorrer o povo gaúcho. Todo esse material tem sido monitorado e denunciado diariamente por veículos da mídia e órgão governamentais.
O governo federal já solicitou investigações da Política Federal para responsabilizar os autores das fake news e também já se reuniu com representantes das plataformas digitais para que providenciem o monitoramento e a remoção de conteúdos falsos das redes.
Agências de checagem de veículos da grande mídia atuam para checar e desmentir as postagens, vídeos e montagens que invadiram as redes sociais desde o início da tragédia no Rio Grande do Sul.
Confira abaixo o levantamento feito sobre algumas fake news divulgadas nas redes que foram desmentidas por essas agências durante o período de 06 a 12 de abril:
– Aos Fatos: 06/05 – Veículos com doações para vítimas da enchente no RS não estão sendo barrados em postos da Fazenda
– Estadão Verifica: 06/05 – É falso que governo Lula tenha patrocinado show da Madonna e deixado de enviar recursos para o RS
– Boatos.org: 06/05 – É falso que Janja tenha ido ao show de Madonna no Rio de Janeiro
– Aos Fatos: 07/05 – Posts enganam ao comparar esforços de militares e governo no RS com ajuda enviada por Luciano Hang
– G1: 07/05 – É #FAKE vídeo em que mulher diz que doações foram retidas em Lajeado para esperar visita de Lula
– Estadão Verifica: 07/05 – É falso que governo Lula não tenha mandado ajuda ao RS e que resgates sejam feitos por empresários
– Estadão Verifica: 07/05 – Postagem engana ao atribuir resgate de vítimas no Rio Grande do Sul apenas ao governo de São Paulo
– Boatos.org: 07/05 – Lula não disse que 10% de 216 mil é 216
– Estadão Verifica: 08/05 – Postagem descontextualiza fala de Simone Tebet sobre envio de recursos ao RS
– Projeto Comprova: 08/05 – Caminhões com doações ao RS não são retidos por falta de nota fiscal e multas por excesso de peso serão anuladas; entenda os casos
– Projeto Comprova: 09/05 – Post de Bolsonaro usa montagem com foto de Lula e Boulos em reportagem sobre presídios
– Aos Fatos: 09/05 – Posts reciclam desinformação antiga para alegar que doações para o RS estão sendo descartadas
– Aos Fatos: 09/05 – Denúncia antiga de vereador circula fora de contexto para alegar que governo federal está enviando alimentos vencidos ao RS
– Estadão Verifica: 09/05 – População não deve fazer estoque de arroz por causa de chuvas no RS, dizem representantes do setor
– Estadão Verifica: 09/05 – Postagem subestima quantidade de alimentos destinados pelo governo ao RS; são mais de mil toneladas
– Aos Fatos: 10/05 – Ibama não apreendeu máquinas usadas na reconstrução de estradas no RS
– Estadão Verifica: 10/05 – Vídeo mostra doações reservadas para abrigados em igreja de Gravataí, no Rio Grande do Sul
– Estadão Verifica: 11/05 – Anvisa não impediu entrega de medicamentos enviados por médico às vítimas do Rio Grande do Sul
– Aos Fatos: 11/05 – Veja tudo o que já desmentimos sobre as enchentes no Rio Grande do Sul
– Aos Fatos: 11/05 – Governo Lula não destinou mais alimentos a Cuba que para afetados pelas enchentes no RS
– Aos Fatos: 11/05 – É falso que vídeo mostra agressão contra ministro Paulo Pimenta no Rio Grande do Sul
– G1: 11/05 – É #FAKE que o Ibama tenha impedido moradores de abrir estrada no Rio Grande do Sul
– Estadão Verifica: 11/05 – É falso que governo federal tenha proibido evangelho, cultos e orações em presídios
– Boatos.org: 11/05 – Vídeo com críticas ao governo Lula no contexto das enchentes
não é do vice-prefeito de Porto Alegre, Ricardo Gomes
– Boatos.org: 11/05 – É falso que Lula tenha proibido entrega de donativos após enchentes em Lajeado, no Rio Grande do Sul
– Aos Fatos: 12/05 – É falso que governo federal só permite doação internacional de produtos usados ao RS
– Lupa: 12/05 – É falso que governo federal não quer que Portugal envie doações para o RS
– Boatos.org: 12/05 – É falso que Janja tenha pedido que resgate do cavalo Caramelo esperasse a sua chegada
Da Focus Brasil e g1 com informações da Agência PT, Agência Brasil e do Planalto