Por Silvana Coelho
No Brasil as pessoas estão vivendo mais. É fato. Resultado das pesquisas e avanços na área da saúde, da informação e de políticas públicas mais abrangentes.
Por mais que alguns saudosistas reclamem que a qualidade de vida piorou, que atualmente se come mal e as pessoas pouco se comunicam, os dados mostram que os alimentos chegam as casas de muito mais pessoas que no passado, as vacinas previnem muitas doenças que antes eram fatais, os remédios e recursos tecnológicos curam ou melhoram a qualidade de vida das pessoas e os avanços tecnológicos têm ampliado a possibilidade de comunicação entre pessoas distantes fisicamente.
Na contemporaneidade mais pessoas têm acesso a viagens a locais distantes, antes restritas a uma minoria. O mundo encurtou. E a humanidade envelheceu. A sociedade precisa discutir isto com sensatez.
Dizer que após os 60 é a melhor fase da vida e fantasiar que nos 60+ só há delícias é delírio. É negação. Uma negação irresponsável, que impede ou atrasa discussões sérias na sociedade e na administração pública sobre como lidar com esta nova realidade.
É curioso que muitas pessoas que defendem a delícia da vida após 60, o fazem com rostos e bocas preenchidas, dentes artificialmente aumentados, voz alterada por excesso de hormônio tomado, atitudes que atendem a ilusão de uma aparência mais jovem. Além do discurso desalinhado com a prática, estas medidas são externas. As alterações que ocorrem no corpo com a idade ocorrem também nas estruturas e órgão internos, afetam seu funcionamento e impactam também no psicológico.
A verdade é que nem todas as pessoas com mais de 60 anos são independentes fisicamente e têm autonomia. Muitas apresentam alterações nas articulações ou nos ossos e limitação até para atividades básicas, como andar ou se alimentar. Outras têm restrições decorrentes das alterações neurológicas, ou desgastes pelo tempo vivido, que podem ser mais ou menos deletérios a depender do estilo de vida que levou.
Se o período de vida após os 60 anos não é só delícia, também não precisa ser dor. É um período de vida diferente, que requer cuidados e investimentos sociais e econômicos específicos. O mesmo ocorre com a infância, a adolescência e a “adultescência
Entretanto, as discussões sobre envelhecimento no Brasil ainda são tímidas. Não estão proporcionais aos dados apresentados pelo último censo sobre a pirâmide etária do Brasil, que mostra um aumento da população idosa.
Na sociedade e na administração pública têm avançado discussões sobre inclusão no que se refere a gênero, raça e populações antes marginalizadas, o que é positivo e necessário. Ocorre que, se tudo der certo, o envelhecimento pode chegar para todos, incluindo indígenas, afrodescendentes, quilombolas, LGBTQIA+, pessoas com necessidades especiais.
Faltam nas cidades brasileiras mecanismos que facilitem a acessibilidade a quem precisa de necessidades especiais, seja idoso ou não. Nas cidades que têm, nem sempre estas adaptações estão em todos os bairros.
Poucas cidades brasileiras tem banheiros públicos suficientes para atender a demanda da população e muito menos para acesso a famílias, o que é necessário em situações de urgência, que pode ocorrer aos idosos.
Faz-se necessária a reflexão sobre qual o período da vida, que o alongamento da vida prolonga a fim de mais atitude em favor de uma vida melhor neste período.
————————————————
Ortodontista e doutora em gestão