O Brasil e o efeito Trump

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Por Joaci Góes

            Para o amigo Wellington do Carmo Cruz!

          Graças à sua irrelevância, quando comparado aos Estados Unidos, o Brasil se encontra razoavelmente protegido do que possa vir a ser a ressurreição Trumpiana da grandeza norte-americana, apesar do reiterado esforço do Presidente Lula em hostilizar o Colosso do Norte, seu novo Presidente e alguns dos seus maiores aliados.

            Enquanto os Estados Unidos contam com uma população de 337 milhões de habitantes e um PIB de 28 trilhões de dólares, a população brasileira de 212 milhões produziu, em 2024, um PIB de 2,4 trilhões de dólares. Isso significa que enquanto a renda per capita anual dos norte-americanos é da ordem de 83 mil dólares, a dos brasileiros cai para 11 mil dólares, portanto, 7,6 vezes inferior. Além disso, o Brasil importa mais do que exporta para os Estados Unidos, não havendo, em princípio, razão para Trump elevar as alíquotas de importação dos produtos brasileiros, diferentemente de outras nações altamente superavitárias nas trocas com o Tio Sam. E a posição superavitária brasileira no comércio internacional, em geral, decorre da competitividade de sua produção agrícola que registra índices crescentes de produtividade, graças, sobretudo, ao excepcional progresso tecnológico capitaneado pela EMBRAPA, criação dos brasileiros José Irineu Cabral e Alysson Paolinelli, a partir de 1973, no governo do Presidente Garrastazu Medici. Estranha que ponderável parcela dos apoiadores do atual governo brasileiro denomine de fascista o segmento agrícola, carro chefe das exportações nacionais. Já os manufaturados brasileiros não param de perder competitividade, em razão da baixa qualidade de nossa mão de obra que decorre de nosso péssimo ensino.

            Na sociedade do conhecimento em que estamos inapelavelmente imersos, as riquezas naturais passaram ao terceiro lugar como fator da prosperidade dos povos, assumindo o saber o primeiro posto, ocupando a   mentalidade de abundância dominante o segundo. É por isso que nações como as europeias, Israel, Singapura, Coreia do Sul e Japão, apesar de destituídas de riquezas naturais, estão entre as mais desenvolvidas, enquanto países como o Brasil, Argentina e Venezuela, não obstante suas grandes riquezas naturais, encontram-se entre os mais pobres e desiguais, porque, além de terem uma educação mendicante, em todos os níveis, são dominados por uma mentalidade de escassez que os leva a desejar o quanto pior melhor, desde que o antagonista leve à breca, realidade que conduziu o estadista baiano Otávio Mangabeira a cunhar frase famosa: “O baiano gasta 100 para o vizinho perder 50”. Essa suicida mentalidade de escassez, que não é monopólio dos baianos, tem nome universalmente conhecido: inveja, o mais destrutivo de todos os sentimentos humanos, causa dos maiores males.

            Na atualidade, o Brasil vivencia a sua fase mais crítica do apogeu dessa mentalidade destrutiva, no plano de sua experiência política, quando nos encontramos sob o domínio pleno da mentalidade de escassez, principal fonte de nossos tropeços, em razão de um odiento divisionismo que compromete a conquista dos avanços de que tanto carecemos para alcançarmos as possibilidades compatíveis com as grandes riquezas naturais que possuímos. Todo esse funéreo cortejo resulta da mentalidade de escassez dominante que, vindo de longe em nosso passado, exacerbou-se nos últimos anos. Do mesmo modo que Deus e o Diabo precisam um do outro para existirem, os principais líderes desse conflito nacional dependem uns dos outros para assegurarem as respectivas lideranças. O resultado acumulado dessa mentalidade prostituída dominante no Brasil é o que se vê: um país dotado de tão grandes possibilidades patinar no desequilíbrio das ingentes desigualdades sociais que comprometem a higidez da vida nacional, com uma população majoritariamente analfabeta, incapaz de qualquer protagonismo minimamente grandioso, deficiência agravada por uma vida de doenças ocasionadas pela precariedade do saneamento básico a que tem acesso o segmento pobre da população.

            Tem razão o pensador francês Joseph De Maistre (1753-1821) ao dizer que “cada povo tem o governo que merece.”