O “lá e low” oficializado no governo

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No cenário político baiano um novo jargão resume bem quando determinado partido ou político quer ficar em cima do muro conversando com todas as frentes: é o lá e low. Apesar do termo não ser o correto, acho que o lá e cá seria mais apropriado, a sonoridade até um pouco mais cômica preponderou no sentido da tradução do movimento. Quem eu mais vi utilizá-lo foi o então presidente da Câmara de Salvador, a época, e hoje vice-governador, Geraldo Júnior (MDB), carregado de todo o folclore que lhe é peculiar.

Essa política do lá e low começa ser introjetada na forma das relações do governo Jerônimo Rodrigues (PT) com os partidos políticos. Algo muito semelhante foi feito pelo ex-governador Jaques Wagner (PT) quando esteve à frente do Palácio de Ondina. O partido nacionalmente tem uma postura diferente daquela seguida em nível estadual e, por vezes, em caminhos totalmente diversos nas conjunturas municipais.

Quem acabou com isso foi Rui Costa (PT) no seu projeto centralizador de fazer política. Ele cobrava dos partidos a fidelidade em um caminho só. Por exemplo: não admitia, em muitos casos, que uma sigla com ele na Assembleia Legislativa e na condução da bancada na Câmara Federal fosse opositora no município. Era verticalizado.

Jerônimo não. Apesar do discurso forte de se manter firme primeiro com quem esteve com ele na linha de frente da sua campanha quando uma maioria o desacreditava, ele tem sido flexível. Vários são os exemplos. O PP abriu a porteira. A bancada pepista se reintegrou às fileiras do governo, apesar de Cacá Leão, nome importante da legenda, continuar como secretário de Bruno Reis (UB) em Salvador.

Neste fim de semana vimos uma nova relação no mesmo sentido: o PSDB. A visita simbólica de Jerônimo ao presidente nacional do partido e governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, sacramenta o processo de aproximação. O próprio deputado federal Adolfo Viana (PSDB) e Leite reforçaram isso na conversa com a imprensa: abertura de diálogo em todas as frentes sem perder aquilo que já foi construído.

Outras agremiações que rodeiam o núcleo netista na Bahia estão no radar da secretaria de Relações Institucionais do governo. São elas o PDT e Republicanos. Ambas, na gestão JW, participavam das discussões em nível estadual com a base governista e em Salvador dialogavam com o núcleo diverso. Inclusive com secretários lá e low.

O ponto de corte começou justamente em 2015 com o PDT, quando Rui Costa não aceitou ver Andrea Mendonça como secretária de Trabalho da então prefeitura ACM Neto e Fernanda Mendonça no CAB, que teve nomeação the flash na secretaria da Agricultura. Tudo indica que agora são águas passadas. Apesar do diálogo com os pedetistas não ter avançado como os tucanos, existe uma sinalização. Já o Republicanos, passa por uma discussão nacional que envolve a sucessão de Arthur Lira (PP) e a articulação de Marcos Pereira (Republicanos) com possível efeito regional na Bahia. Assunto ainda embrionário.

Apesar da passagem bíblica de não se servir a dois senhores, para justificar o lá e low muitos apontam o seguinte: a questão é o aqui e agora, pois a preocupação eleitoral é da disputa municipal e a preocupação partidária é da arrumação do governo na Assembleia e na Câmara Federal. “Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”, me disse aos risos um assessor tucano no evento com Eduardo Leite no sábado. Faz sentido, em tese. Mas e o outro lado? Vai seguir nessa lógica? Sobre Salvador, Bruno Reis, habilidoso no campo da política, para garantir sua reeleição, creio, vai tocar o barco como se nada tivesse acontecendo.