Por Victor Pinto
Nascido de um racha do antigo PT nos idos de 2003 após expulsões da legenda por discordâncias com o então governo Lula, o PSOL surge nessa sombra, com uma pecha de radical e daqueles que não souberam ser governo e preferem sempre ser oposição. Seria mais fácil ser um ente opositor pela forma ácida da atuação crítica do que o pragmatismo da moderação envolto no republicanismo que se espera de quem está no poder.
O PSOL, em sua gênese, busca ser “uma alternativa eleitoral e democrática de um partido com ideologia de esquerda”, palavras do seu programa, em 2004, no processo de criação. Apesar de ter nordestinos em seu quadro de fundação, possui um melhor desempenho no eixo sul e sudeste. A Bahia, uma praça importante, surge junto com o diretório nacional, mas sem capilaridade. Teve seu ápice de conhecimento junto ao eleitor na campanha eleitoral de 2008 com a figura de Hilton Coelho, então candidato a prefeito, que com um reggae na voz de Edson Gomes, catapultado pela força de um jingle “Hilton 50 na capital da resistência”, jogou luz na atuação partidária. A partir daí, o PSOL se torna figura carimbada nos processos eleitorais baianos.
A última pesquisa AltasIntel me surpreendeu ao mostrar Kleber Rosa, pré-candidato a prefeito dos pesolistas, com 10% das intenções de voto. Se não crescer, mas também não cair esse índice, será o melhor desempenho da sigla em sua história no Estado da Bahia. Isso quer dizer muito. Mostra um processo de ascensão bastante organizado no campo da esquerda de uma legenda ramificada do PT, o partido detentor do mais longevo período à frente do Palácio de Ondina.
Kleber consegue ter bom desempenho por possuir um recall da eleição de 2022, quando teve uma atuação elogiada e um desempenho importante. Brinco que faltou um Kleber Rosa, praticamente, para Jerônimo Rodrigues (PT) ter vencido ACM Neto (UB) no primeiro turno. Os 48 mil votos dos pesolistas – faltaram 2 mil para bater a marca dos 50 mil votos de Marcos Mendes em 2014 – ajudaram no segundo turno e o governo se viu obrigado a chamá-los para a composição. Assim o fizeram, mas ano passado romperam por discordarem, principalmente, da condução da segurança pública. Kleber, no pleito atual, lucra por ser o nome da esquerda. Geraldo Júnior, do centrista MDB, mesmo com a unção do governo, não cativou o voto ideológico. O crescimento de Rosa é nítido por causa, principalmente, desse último fator.
Vejamos o desempenho do PSOL na ordem cronológica na capital: o primeiro candidato foi Hilton Coelho, em 2008, com pouco mais de 51 mil votos ou 3,94% – uma surpresa e uma novidade, tanto que quatro anos mais tarde Hilton se elegeu vereador, o segundo mais votado, com mais de 16 mil votos, se reelegeu e é o único deputado estadual da sigla com dois mandatos seguidos; em 2012 foi a vez de Hamilton Assis (PSOL) e este terminou com pouco mais de 33 mil votos ou 2,60%; em 2016 foi Fábio Nogueira (PSOL), o pior desempenho, com quase 14 mil votos ou 1,04%. Em 2020, na sucessão de ACM Neto e a vitória acachapante de Bruno Reis (UB), Hilton foi escalado mais uma vez e conseguiu pouco mais de 16 mil votos ou 1,39% daquele processo eleitoral. Naquela ocasião, o PSOL alcançou só uma cadeira na Câmara com o mandato coletivo Pretas Por Salvador.
Mas, na análise do desempenho individual das eleições gerais e das eleições da capital, a persona com a maior e melhor desenvoltura, apesar do péssimo desempenho como candidato a prefeito, foi Fábio Nogueira (PSOL). Na campanha de 2018 conseguiu mais de 160 mil votos para o Senado. Ele é seguido de Tâmara Azevedo (PSOL), candidata também ao Senado em 2022, que no fim das contas teve quase 120 mil votos, mais do que o candidato a governador da legenda, Kleber, diga-se de passagem.
Na leitura do contexto, a eleição de 2024 tende a elevar o PSOL para outro patamar no campo político soteropolitano, isso se não minguar no decorrer do processo eleitoral e não deixar se levar no canto da sereia para ser um satélite do governo petista, como outras legendas são. Kleber é a maior pedra no sapato de Geraldo na concorrência direta do tradicional público de esquerda, no voto antinetista e no voto de opinião. Se desencantar, acima dos 10%, será uma surpresa.