Por Victor Pinto
A eleição de 2024 em Camaçari transformou a cidade na capital da batalha política da Bahia. Reconhecida pela importância econômica, sendo um dos principais polos industriais do Estado, Camaçari agora carrega também o peso de uma disputa política emblemática entre o grupo de ACM Neto (UB) e o grupo de Jerônimo Rodrigues (PT). Ambos veem a eleição municipal como um passo fundamental para suas estratégias futuras. Para ACM Neto, manter Flávio Matos (UB) na prefeitura é essencial para consolidar a força do União Brasil, enquanto para o PT, levar Luiz Caetano (PT) de volta ao comando da cidade é uma questão de recuperar um território que já foi seu reduto.
Camaçari não é uma cidade qualquer. Sua posição geográfica e econômica, além do Polo Petroquímico, conferem-lhe um papel central na engrenagem política e econômica da Bahia. Vencer a eleição em Camaçari é garantir um espaço fundamental na Região Metropolitana de Salvador (RMS), com grande influência no cenário estadual. Por isso, essa disputa ganhou contornos tão acirrados, com a campanha eleitoral se tornando uma verdadeira guerra de estratégias.
Nas últimas semanas se intensificou. Luiz Caetano, que chegou ao segundo turno com uma pequena vantagem de 600 votos, vem atraindo vereadores e lideranças que antes estavam ao lado de Flávio Matos. Isso fortaleceu sua base e pode ter complicado, pelo menos de maneira superficial, a campanha de Flávio, que tem feito eventos apoteóticos. A disputa, que já era acirrada, se tornou ainda mais polarizada.
Durante uma entrevista ao Boa Tarde Bahia, da Band, o professor Cláudio André e eu conversamos muito que, apesar da presença de grandes lideranças nacionais, como Lula no lado de Caetano, o que realmente tende a pender na disputa de Camaçari é a articulação local. A nacionalização do debate, embora relevante em alguns momentos, na minha opinião, não terá impacto em Camaçari, onde as dinâmicas locais se sobrepõem.
A entrada de Lula na campanha de Caetano é considerada pelas fontes ligadas ao PT como a “bala de prata”. A presença do presidente em um ato público com Caetano pode até trazer o impulso para que o candidato petista se fortaleça, mas não deve ser o principal fator decisivo. Contará muito como uma grande deferência e um simbolismo de respeito pela figura histórica do ex-prefeito agora candidato na legenda. Já para Flávio Matos, a campanha se concentra em reforçar seu desempenho no primeiro turno, tentando mobilizar sua base que, se tivesse mais um dia de campanha, a sensação é que poderia ter virado o jogo.
Para ACM Neto, vencer em Camaçari é crucial. A cidade representa um ponto estratégico para consolidar o chamado “cinturão azul” na Região Metropolitana de Salvador, com vista às eleições de 2026. A vitória de Flávio Matos garantiria a hegemonia de seu grupo na região, colocando-o em uma posição ainda mais forte para a futura disputa estadual. No entanto, para Jerônimo Rodrigues e o PT, vencer Camaçari significa recuperar espaço e emplacar a sigla e um aliado importante no quarto maior colégio eleitoral da Bahia, freando uma sensação de fortalecimento da oposição.
Agora, no segundo turno, tudo zera, e as estratégias são renovadas. A disputa segue pau a pau e qualquer passo fora da linha de qualquer um dos dois pode ser fatal.
Essa eleição em Camaçari vai além da escolha do próximo prefeito. Ela é um gostinho antecipado da disputa de 2026. Se Caetano vencer, será uma vitória contra ACM Neto e Bruno Reis. Se Flávio Matos sair vitorioso, poderá dizer que derrotou Lula, Jerônimo, Jaques Wagner e Rui Costa. O cenário está montado e o desfecho dessa disputa dará as primeiras pistas do que esperar para o futuro nos entornos do Palácio de Ondina. A conferir.