Reconhecer e premiar, anualmente, a melhor tese de doutorado em computação na área de inteligência artificial, considerando os critérios de originalidade, relevância e qualidade. Esse é o principal objetivo do Prêmio Maria Carolina Monard, lançado pelo Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos, em cerimônia realizada na última sexta-feira, 12 de abril, no encerramento da Semana da Pós-Graduação.
“Foi sobretudo com sua orientação científica apaixonada e séria que a professora Maria Carolina deixou para sempre sua marca no cenário da inteligência artificial brasileira. Orientou 35 mestres e 16 doutores – e ela dizia que esses eram os filhos dela”, destacou a professora Solange Rezende durante a cerimônia. “O mais relevante é o quanto esses 16 doutores, em especial, ajudaram a nuclear a inteligência artificial em todas as instituições brasileiras, de alguma forma”, completou a professora, que começou a ser orientada por Maria Carolina em 1987, quando ingressou no mestrado em Ciências de Computação e Matemática Computacional no ICMC.
Esta primeira edição do Prêmio oferecerá R$ 5 mil reais à melhor tese defendida em 2023 na área de inteligência artificial, com patrocínio do Centro de Inteligência Artificial da USP (C4AI). Para concorrer à premiação, é preciso preencher este formulário de inscrição até dia 15 de maio: icmc.usp.br/icmc-forms
Entre os critérios de avaliação previstos no edital do Prêmio estão: originalidade do trabalho (20%); relevância para o desenvolvimento científico, tecnológico, cultural e social na grande área de IA (20%); qualidade e quantidade de publicações decorrentes da tese (15%); metodologia utilizada (15%); qualidade da redação e estrutura/organização do texto (15%); desempenho acadêmico, evidenciado pelo histórico escolar (15%).
Uma pioneira ― Quando se fala sobre os marcos da história da inteligência artificial no mundo, destaca-se a primeira conferência norte-americana da área (AAAI), realizada em Stanford em 1980. No Brasil, quatro anos depois, os pioneiros dessa área se reuniram no primeiro Simpósio Brasileiro sobre Inteligência Artificial (SBIA). Lá já estava a professora Maria Carolina Monard: na manhã do último dia do evento, em 14 de novembro de 1984, ela participou de uma das sessões técnicas do Simpósio apresentando o artigo Integração de uma linguagem funcional em uma lógica, desenvolvido em parceria com mais dois pesquisadores do ICMC: Antônio Eduardo Costa Pereira e André Gurgel. Durante os três dias do evento, realizado em Porto Alegre, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), houve a apresentação de 14 artigos científicos, seis palestras e um painel com especialistas.
Reconhecida como uma das grandes pioneiras da inteligência artificial no Brasil, Maria Carolina licenciou-se em Matemática e Física em 1962, na Argentina, país em que nasceu. A seguir, fez mestrado em Ciências da Computação na Universidade de Southampton, no Reino Unido, e doutorado em Informática na Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro. Em 1973, chegou ao ICMC como professora visitante e foi efetivada como docente dois anos depois, desempenhando um papel fundamental na criação e consolidação do Laboratório de Inteligência Computacional (LABIC) e dos cursos de computação do ICMC, reconhecidamente entre os melhores do país. Retornou ao Reino Unido em 1987 para um pós-doutorado na Universidade de Strathclyde.
Exatos 20 anos após chegar ao Instituto como visitante, Maria Carolina foi a primeira mulher a se tornar professora titular no ICMC, em 1993. Em 2000, em parceria com o professor Jaime Sichman, da Escola Politécnica da USP, coordenou e organizou o 15º Simpósio Brasileiro de Inteligência Artificial (SBIA). Realizado em Atibaia juntamente com a Conferência Ibero-Americano de Inteligência Artificial (IBERAMIA), o evento foi um sucesso devido à excelente organização e ao grande número de trabalhos submetidos: 156 artigos de 18 diferentes países.
Dentre as diversas premiações que Maria Carolina recebeu, destaca-se o Prêmio de Mérito Científico em Inteligência Artificial, concedido pela Comissão Especial de Inteligência Artificial (CEIA) da Sociedade Brasileira de Computação (SBC) em 2010. Aposentada do ICMC desde 2012, a pesquisadora participou direta e indiretamente da formação de um grande número de mestres e doutores durante sua exitosa trajetória acadêmica.
“Na minha carreira, a maior sorte que eu tenho são os meus alunos. A grande maioria deles ficou na parte de ensino, e eles orientaram outros. Então, isso significa que eu fiz o trabalho de formação de recursos humanos, o qual temos que fazer. Eu não tinha ideia que eram tantos alunos, era uma coisa com a qual não me preocupava, queria apenas fazer meu trabalho bem feito. Já tenho netos e bisnetos, pois tem gente que orientei, que orientou e que está orientando. É incrível!”, disse Maria Carolina em entrevista concedida à revista ICMCotidi@no, publicada na edição nº 101, em junho de 2013.
Em abril de 2022, a professora faleceu, deixando um grande número de herdeiros científicos que têm, agora, a missão de levar adiante seu exemplo. “Eu sempre me inspirei na Maria Carolina. Hoje eu estou quase na idade que ela tinha quando se aposentou. Se ela estivesse viva e com saúde, estaria trabalhando aqui com a gente do mesmo jeito. Então, eu me inspiro nela para continuar trabalhando e produzindo”, revelou a professora Maria das Graças Volpe Nunes na cerimônia de lançamento do Prêmio. “A Maria Carolina Monard foi um exemplo de discrição, de seriedade, de paixão pelo que ela fazia, pelos alunos, uma companhia gostosa”, completou a professora. Maria das Graças chegou ao ICMC em 1981, recém-formada em Ciências de Computação pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), e foi orientada por Maria Carolina durante o mestrado, concluído em 1985, com a apresentação da dissertação Algoritmos de busca em textos.
Ao colocar o nome de Maria Carolina Monard no primeiro prêmio do ICMC destinado a teses em inteligência artificial, o Instituto prossegue a jornada da pesquisadora em prol da formação das futuras gerações de pesquisadores da área.