O jornalista Ricardo Ishmael está lançando seu quarto livro escrito para crianças, O Pequeno Príncipe das Águas e a Terrível Baleia Branca (Editora Mojubá/R$ 43/ 44 págs.). Como nas obras anteriores, o autor faz questão de não infantilizar as crianças. E, desta vez, o pequeno leitor pode até terminar a leitura meio angustiado, porque não há, ao contrário dos velhos contos infantis, aquele final feliz. Aqui, não tem essa de “viveram felizes para sempre”. Mas a angústia faz parte da vida, não é?
“Sim, talvez o livro tenha momentos angustiantes. Mas acho importante pensarmos nisso, nas sensações que ele vai provocar. Já apresentei o livro a algumas crianças e vi reações muito diferentes. Não podemos subestimar a inteligência da criança. Por que não podemos frustrar o leitor?”, questiona o autor. Ricardo critica as publicações infantis com viés moralista, em que obrigatoriamente são apresentados desfechos e a “moral da história”.
O livro será lançado neste domingo (5), às 14h, no Stand Clooby do Livro no Shopping Barra. Durante o lançamento, as famílias vão participar de uma roda de contação de história, feita pelo próprio autor, e vão ouvir músicas e participar das brincadeiras apresentadas pela Banda Infantil Sambalelê.
Aparências enganam
No livro, um menino está sozinho em alto-mar, quando é surpreendido pela visita de um pelicano que se apresenta como amigo. Os dois se aproximam e o animal ganha a confiança da criança. Mas, aos pouco, a ave não se mostra tão confiável assim. Além disso, revela certa possessividade, a ponto de mentir para o “Príncipe” – apelido dado pelo pelicano – apenas com o objetivo de manter a exclusividade daquela amizade.
O pelicano então inventa histórias terríveis sobre os outros animais, para que o Príncipe se mantenha afastado deles. Mas afinal a ave, que se apresentava como amiga, é perversa? “Sim, ele é perverso. E a personagem nasceu para isso. Falei com o ilustrador [Heitor Neto] sobre isso: queria que se apresentasse como dócil, meigo… mas depois ele muda e se revela egoísta”, reconhece Ricardo.
À medida em que ia escrevendo, o autor percebeu que o “vilão” do livro acabou se tornando um personagem de mais destaque que havia sido planejado. Tem ainda outra questão importante envolvendo a ave: ela não se aceita como animal e abandonou a família para tentar viver entre os humanos. “Isso é uma maneira de falar sobre esse incômodo que algumas pessoas têm, de não se aceitarem como são”, revela o autor.
Ricardo não tem receio de assumir que há referências claras que inspiraram seu livro, como O Pequeno Príncipe e Moby Dick, além de Pinóquio. “Comecei a revisitar livros que foram importantes para mim como leitor. Peguei um pouco deles e criei a história. Mas o grande elemento que os une – e está em O Pequeno Príncipe das Águas e a Terrível Baleia Branca – é a solidão”, diz o autor.
O PEQUENO PRÍNCIPE DAS ÁGUAS E A TERRÍVEL BALEIA BRANCA
Autor: Ricardo Ishmael
Ilustrações: Heitor Neto
Editora: Mojubá
Preço: R$ 43 | 44 págs.
Lançamento: domingo, 5, 14h, no Stand Clooby do Livro no Shopping Barra
VEJA INDICAÇÕES DE LIVROS INFANTIS FEITAS POR RICARDO ISHMAEL
Os Dengos na Moringa de Voinha (Ed. Brinque Book), de Ana Fátima e ilustrações de Fernanda Rodrigues
“É cheio de afeto e lembranças. A lembrança do abraço de voinho, o cafuné de mainha, as cantigas de painho, o cheiro da comida da tia… uma história de cotidianos simples, mas cheios de emoção e memória”.
Meu Avô Samantha (Ed. Saíra), de Cláudia Naoum e Bárbara Quintino
“Fala sobre o nascimento da alma drag queen, de uma vontade de contestar o mundo, de refutar a divisão do mundo em coisas para menino ou coisas para menina. Uma história infantil, leve, lúdica, que no fim nos diz que as coisas não têm que ser ‘assim ou assado’. As autoras apresentam questões de gênero, performance e identidade a partir de um olhar poético”.
O Pequeno Príncipe (Ed. Harper Collins), de Antoine Saint-Exupéry
“Clássico dos clássicos, atemporal, publicado no Brasil em 1952 e até hoje está entre os mais procurados. Uma criança que vive sozinho com uma rosa e uma cadeira e de repente encontra um piloto de avião que cai no deserto e a gente tem uma aventura filosófica e poética e que envolve a busca por uma criança que também é um ser solitário”.
Ilustração de Heitor Neto. Crédito: Fotanderson Glover/divulgação
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