Por Victor Pinto
Rui Costa saiu da Bahia, mas a Bahia não saiu de Rui Costa. Contudo, ele também precisa entender que Brasília não é a Bahia. Saco de pancadas desde quando tomou posse como ministro da Casa Civil do governo Lula (PT), o ex-governador sempre deu indícios de não se afastar por completo das conduções da terra comandada por ele através do Palácio de Ondina. A começar pelas frequentes agendas de Rui nos fins de semana ao lado de Jerônimo Rodrigues (PT), seu sucessor, numa demonstração para muitos da sua dificuldade de virar a página.
Um levantamento recente do Estadão mostra sua predileção, conforme agenda oficial. Não seria para menos, pois, por exemplo, sua família não o acompanhou para a Ilha da Fantasia. Conforme o jornal, em seis meses de governo, Rui teve 91 encontros com políticos e autoridades da Bahia. O ministro também viajou 13 vezes para cumprir 28 agendas em seu reduto eleitoral.
Em número de viagens isso tem saltado aos olhos, mas chama atenção sua prioridade também na agenda na Esplanada dos Ministérios. Confesso que como baiano não vejo nada demais nessa atenção por quem ficou oito anos na condução do Executivo local, porém, quando se trata de um cargo de gerência do governo federal e ainda mais diante de uma crise política em seis meses de governo, isso é um sinal de problema. Me lembra Geddel Vieira Lima frequentemente criticado ao priorizar o Estado no derrame de verbas quando foi ministro da Integração Nacional dos governos petistas.
Diferente do que publicou a revista Veja nesta semana, ao apontar Rui como um nome para a sucessão de Lula à Presidência da República, o ex-governador faz política paroquial e não faz jus. As atitudes em números e ações mostram sua visão de umbigo, o que, na minha opinião, dificulta sua viabilidade como player nacional. Seja pelo péssimo relacionamento, seja por não pensar fora da caixinha. Rui está mais para um boi de piranha auxiliador da blindagem a Fernando Haddad das críticas mais ferozes ao desviar o foco do holofote.
Rui, por mais que se esforce, nunca terá 1% do brilho de liderança política que o senador Jaques Wagner (PT) carrega consigo no seu mesmo campo político. Ele busca se viabilizar pela Casa Civil em um patamar como esse, mas não nasceu predestinado a isso. Será sempre a criatura do criador. E esse seu afã na prioridade baiana tem outro pano de fundo. Ele só pensa naquilo: a eleição de 2026.
Ele, por mais que não revele, carrega uma frustração por não ter sido o candidato a senador na chapa de 2022. Vimos toda mobilização para se manter vivo com mandato, pois sabe da sua morte eleitoral caso fique longe da estrutura de poder.
O ex-governador demonstra que quer uma cadeira da eleição geral futura, mas existe uma dificuldade de fechar essa equação: Jerônimo, em tese, pode tentar reeleição ao governo; Wagner também tem, até então, caminho aberto para buscar a reeleição do Senado; e o PSD de Otto Alencar (PSD) teria uma predileção para indicar a outra cadeira. E então? Ou o PT vai ficar com todas as vagas ou alguém será empurrado do assento mesmo com a distribuição aos partidos aliados. Um problemão.