Por Reynivaldo Brito
Vamos falar hoje da artista Sara Victoria do Carmo ou simplesmente Sara Victoria filha de Sônia Carmo e do alemão Oswald Reinhard Kowalski nascida em Berlim Oriental em trinta de outubro de 1970. Passou uma temporada em Londres, São Paulo, Salvador e atualmente está com residência fixa na ilha de Itaparica juntamente com o seu esposo o escritor Antônio Risério. Sua arte é multifacetada e sempre inspirada na cultura popular. Algumas de suas pinturas são compostas por vários quadrinhos como se fossem páginas de uma revista onde ela quer contar o que vê no seu dia a dia e nas manifestações populares que tanto aprecia. Teve uma participação importante no teatro baiano e sua arte está entremeada como se fosse uma peça a ser representada numa tela que agora é o seu palco onde se desenrolam várias cenas. Para apreciar suas obras requer tranquilidade e sensibilidade para ir descobrindo cada personagem e cada cena para se ter uma ideia da singularidade de suas obras.
Embora tenha nascido na Alemanha Oriental terra do seu pai chegou ao Brasil, exatamente em São Paulo com apenas cinco anos de idade e hoje está completamente adaptada à Bahia, e até já “se descobriu filha de Iemanjá”. Ela nasceu na Alemanha Oriental porque sua avó a jornalista Ana Montenegro por ser uma ativista política ligada ao Partido Comunista Brasileiro teve uma participação marcante contra a ditadura militar terminando sendo exilada . Antes de ser exilada ela trabalhou na imprensa local nos jornais O Momento, Classe Operária e Correio da Manhã, no Rio de Janeiro. Teve ainda uma participação ativa na luta em 1947 pela ocupação das terras na localidade de Corta-Braço, atualmente o consolidado bairro do Pero Vaz, em Salvador. Era cearense de nascimento, da cidade de Quixeramobim e nasceu em 13 de abril de 1915, e se dizia baiana por escolha, vindo a falecer em 30 de março de 2006. Enquanto sua filha Sônia Carmo, mãe da artista Sara Victoria, é fotógrafa e trabalhou nos jornais Tribuna da Bahia e Correio da Bahia.
A artista Sara Victória estudou o primário na Escola Experimental criada por Amabília Almeida e José Contreiras, que tinha uma orientação construtivista. Amabília além de educadora foi uma política de destaque na Bahia. Em seguida a Sara Victoria foi estudar no Colégio Dois de julho, localizado no bairro do Garcia, em Salvador, na época sob o comando do educador Celso Dourado. Posteriormente estudou no Colégio São José, que funcionava no bairro do Rio Vermelho a qual não mais existe. Ingressou no Curso Livre de Teatro para Direção na Escola de Teatro, da Universidade Federal da Bahia. Foi quando engravidou teve o filho Lucas, que hoje está servindo na Legião Estrangeira, na França. Conheceu Márcio Meirelles e foi integrar o grupo que reconstruiu o Teatro Vila Velha juntamente com Débora Landim e Marisa Mota. Me disse que trabalhou muito como atriz, fazendo também figurinos e cenografias, além de retomarem o programa Esta Noite se Improvisa, que fez história do mundo do teatro e da música baianos. Disse que mesmo com todas essas atividades que em 1988 passou a sentir um vazio muito grande e que por acaso começou a pintar. Foi quando o amigo fotógrafo Márcio Lima lhe sugeriu fazer uma oficina de pintura no Museu de Arte Moderna da Bahia. Resistiu a princípio, mas, terminou frequentando as Oficinas do MAM e lá conheceu o artista Caetano Dias, que era o orientador. “Foi lá que me encontrei com a pintura. Apesar de gostar do teatro confesso que não era uma atriz muito disciplinada, não tinha muita paciência com os ensaios. Toda vez que a gente acertava o outro não acertava, ou ao contrário o outro acertava e a gente errava. É uma loucura! Aí eu tinha aquela coisa de só entregar a interpretação quase na véspera na estreia.”, disse Sara
Victoria com seu jeito simples e direto de se expressar. Porém, foi nas artes plásticas que disse ter descoberto “que sou chata, bem mais disciplinada,cobrando de mim mesma e pintando, pintando. Mais dedicada ainda sou quando estou estudando pintura. É uma coisa da gente mesma”. Ficou apenas um ano e pouco nas Oficinas do MAM. Logo que entrou tinha menos de um mês já estava expondo como aluna Destaque. Depois participou da Bienal do Recôncavo quando foi agraciada com a Menção Honrosa, em seguida fundou o Núcleo de Artes Plásticas do Teatro Vila Velha com outras pessoas quando montaram a exposição “Ontocartografias – O Mapa do Ser Humano. O projeto foi o vencedor do Prêmio Braskem de Cultura e Arte, em 2002. Foi quase um ano entre projeto e apresentar. Saiu e fez outro projeto sozinha chamado Vô Imbolá, sendo premiada novamente com o Prêmio de Cultura e Arte Braskem, em 2003.
Tem uma predileção em contar histórias e falou da importância cultura popular na sua arte e na vida em si. Expôs na Galeria de Paulo Darzé, o projeto Vô Imbolá e também nos Centro Cultural do Correios daqui e depois do Rio de Janeiro, e em seguida foi para Angola. Ao retornar passou a trabalhar com outros suportes como pintura em porcelana e azulejo. Declarou “quando a gente gosta do que faz vai experimentando e aí segue um caminho que não sabemos onde vamos chegar e parar.” Atualmente está trabalhando com pinturas em tecidos de seda pura e isto aconteceu porque foi uma solicitação de algumas pessoas conhecidas. A Sara Victória resolveu experimentar e revelou que foi uma grande surpresa, e que hoje se sente muito feliz por estar realizando esses trabalhos. São pinturas únicas e impactantes de cores fortes que transmitem a alegria dos trópicos.
Caetano Dias Fala DE SARA
O artista Caetano Dias que foi o primeiro orientador de Sara Victoria nas Oficinas do MAM-BA a meu pedido escreveu um pequeno texto que aqui reproduzo: “As pinturas de Sara Victoria, desde o início de sua trajetória, estabelecem uma conexão profunda com o mundo das imagens cotidianas, que permeiam a vida de todos nós de maneira incessante. Esse vínculo sugere uma nova perspectiva sobre a ideia de inconsciente coletivo, que se manifesta através do acúmulo dessas imagens, quase como uma escrita visual que se entrelaça com o consciente coletivo e massivo do presente. A artista nos imerge, convidando-nos a ler um diário de sua imaginação. Essas noções sempre estiveram presentes na obra de Sara, desde seu início nas oficinas de arte no MAM. Ao observar a evolução de seu trabalho, noto que o modo como ela opera em sua produção artística permanece, em certa medida, coerente com a abordagem de sua fase inicial, profundamente influenciada por referências da cultura popular. A paleta de cores, que hoje é vibrante e tende ao uso de cores primárias, contrasta com sua tendência anterior ao monocromático. Esse talvez seja o diferencial mais evidente na pintura de Sara Victoria atualmente. Suas obras continuam a ser multifacetadas, onde cada detalhe contribui para as histórias que ela narra de forma quase espontânea. As pinturas de Sara refletem uma constante apropriação e reinvenção de elementos culturais de suas vivências, criando uma complexa trama entre a realidade interior e a realidade comum. Dessa forma, Sara Victoria continua a trilhar seu caminho artístico, explorando as fronteiras de sua expressão.”
EXPOSIÇÕES
INDIVIDUAIS – Em 2003 – Galeria de Arte Paulo Darzé, em Salvador, projeto “Vô Imbolá; 2004 – Centro Cultural Correios, em Salvador projeto “Os Mano e as Mina; 2005 – Centro Cultural Correios, no Rio de Janeiro projeto Como É Isso? ; Exposição no MAM-Bahia, em Salvador projeto O QUE É ISSO?; Exposição no Instituto Camões Angola / Luanda, projeto O QUE É ISSO ? ; 2006 – Exposição no Teatro XVIII , Pelourinho, em Salvador projeto Minha Partitura ; 2007 – Na Aliança Francesa Salvador/ Bahia, exposição ZERA A REZA.
Pintou os dioramas do Museu de História Natural do Parque Sauipe – Reserva Ecológica Cetrel Costa de Sauipe. O dioramas são representações tridimensionais próximos da realidade com a finalidade educacional ou de entretenimento. Por exemplo, a escultura de uma árvore, animal ou um prédio criado por um artista.; executou o Cenário do Show de Lançamento do Cd Espirais, de Daniela Firpo.
COLETIVAS – 1999 e 2000 – Expôs nas Oficinas do Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM) ; 2000, 2002 e 2004 – na Bienal do Recôncavo, em São Félix- BA ; 2002 – Teatro Vila Velha, em Salvador , projeto Ontocartografias ; 2003 – Exposição no Espaço Cultural Caixa Econômica, em Salvador , projeto Igrejinhas, Mercado Cultural; 2004 – Aliança Francesa, em Salvador – exposição comemorativa da Queda da Bastilha ; 2005 – Exposição Natal sem Fome, em Salvador; Exposição Mercado Cultural , Sala de Arte do Clube Bahiano de Tênis; 2007 – Comemoração de 40 Anos do Teatro Castro Alves ; Exposição no Palacete das Artes – Projeto Circuitos das Artes ;Exposição no I Encontro Estadual de Educação / Escola Parque .
Também tem uma vasta experiência na atuação teatral a saber: 1987 – Curso Livre da Escola de Teatro da UFBA – Participou do curso livro sob orientação do diretor teatral Deolindo Checucci ; 1988 – Oficina Livre de Teatro orientada pelo diretor Fernando Guerreiro ; 1990 – Joana Angélica – Participou como atriz da montagem do diretor Carlos Pronzato sobre o texto de Nélson Araújo, no Teatro Santo Antônio ; 1991 – Curso Livre da Escola de Teatro da UFBA sob orientação do diretor Armindo Bião ; Na peça Amarras participou como atriz na montagem, baseada em textos e depoimentos de Nélson Rodrigues, sob a direção de Ed Anderson, no Teatro Santo Antônio ; 1996-1998 – Participou, como atriz, da novela Renascer, da TV Globo ; Oficinas Livres do Teatro Vila Velha participou das duas primeiras oficinas livres da nova fase do Teatro Vila Velha, que resultaram, respectivamente, nas peças Barba Azul e Sonho de Uma Noite de Verão; 1996 – Barba Azul – Participou, como atriz e assistente de figurino, na montagem da peça, no Teatro Vila Velha, sob a direção de Márcio Meirelles ; 1997 – Um Tal de Dom Quixote – Participou, como atriz e assistente de figurino, da montagem da peça baseada no texto de Miguel Cervantes,no Teatro Vila Velha, sob a direção de
Detalhe de porcelana com ornamentos florais. |
Márcio Meirelles ; 1998 – Cabaré da Raça – Assistência de figurino na montagem de Márcio Meirelles com o Bando de Teatro Olodum, no Teatro Vila Velha ; Ópera de Três Reais – assistência de figurino na montagem de Márcio Meirelles baseada em texto de Bertold Brecht, com o Bando de Teatro Olodum, no Teatro Vila Velha; Sonho de Uma Noite de Verão – Atriz e assistente de figurino na montagem de Márcio Meirelles texto de William Shakespeare, no Teatro Vila Velha ; 1999 – Fausto Zero – Atriz e assistente de figurino na montagem de Márcio Meirelles ,texto de Goethe, no Teatro Vila Velha ; 2000 – Meia Noite se Improvisa 2000 a 2004 – Coordenação e Produção da série de espetáculos semanais, sempre às sextas-feiras, durante o verão, num total de nove programas, no Teatro Vila Velha ; 2001 – O Belo Indiferente – participou, como atriz, do monólogo O Belo Indiferente, de Jean Cocteau, sob a direção de Chica Carelli, no Teatro Vila Velha .