Sem modéstia: Metropole é símbolo de revolução na FM e palco de fatos que redesenharam a política

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Por Mariana Bamberg
Foto: Metropress/Filipe Luiz
Antes de qualquer coisa, um pedido de licença à modéstia. Mas, com 23 anos, a credibilidade da experiência e uma inquietude típica dos jovens da sua geração, a Rádio Metropole é um acervo vivo da comunicação, política, cultura e da própria cidade. São mais de 200 mil horas de programação, 60 mil entrevistas e 300 municípios atingidos diretamente todos os dias. Não há como não abrir mão da modéstia. Nossos estúdios já foram palco de entrevistas que redesenharam o cenário político local e até nacional. E nos nossos bastidores nasceram inovações que hoje ditam regras por aí.

Da cidade pra Metropole

Essa história quem vai contar é Cosme José dos Santos, que trabalha na portaria da Metropole há 33 anos, junto com os colegas Raimundo Araújo e Carlos Carvalho. São eles que, sempre com um sorriso no rosto, abrem literalmente as portas da radinha para os entrevistados e ouvintes que nos visitam. Cosme lembra que há 23 anos, na virada do milênio, a então Rádio Cidade crescia e se transformava na Rádio Metropole. Era mais especificamente 3 de abril de 2000, quando foi ao ar o primeiro programa da nossa radinha.

“Mudou muita coisa de lá para cá. Como já dizem os nomes, era uma cidade e virou uma metrópole, ampliou em termos de programas, de funcionários, de força”, recorda. Antes de trabalhar na Metropole, Cosme conta que o rádio que hoje vive ligado ao seu lado – não por obrigação, garante ele – era usado apenas para acompanhar jogos de futebol e, vez ou outra, uma música. Essa foi uma das primeiras inovações do Grupo Metropole na comunicação: trazer conversa, debate e notícias para as ondas da rádio FM. A ousadia, claro, rendeu críticas ao idealizador e fundador do grupo Mário Kertész, quem estava à frente e acreditou até o fim nesta mudança. Para essa transição, ele contou com o apoio de Chico Kertész e Mariana Kertész e da então chefe de redação, Norma Rangel.

Quem recorda disso é o consultor técnico da Metropole Marcos Meira. “Quando surgiu a [tecnologia] FM com uma qualidade sonora muito superior, ela já chegou tocando música. Já a AM era mais informativa. Hoje temos poucas AM, a maioria é programação religiosa, e FM é mais música e uma ou outra notícia para encher espaço. Mas quando a Metropole veio falando muito na FM foi uma revolução. Teve até blog para falar mal de Mário, falar que ele queria fazer uma AM na FM e aí, com o tempo, acabou que todo mundo meio que copiou”, conta.

Andar na contramão sempre foi a direção da Metropole. Em 2012, quando especialistas de araque já previam os últimos dias do rádio, a radinha voltou às origens radiofônicas com uma programação direto do Teatro Eva Herz. A plateia lotou. Houve fila de espera para entrar. Mas talvez a maior contramão que já pegamos foi aquela no sentido contrário ao jornalismo sem memória. O nosso “prego”, muitas vezes mal interpretado, mostra isso. Ele atualiza, relembra e cobra respostas sobre aquilo que para alguns já passou, mas para quem ‘está sempre no pé de quem faz besteira’, não.

Uma velha mania de inovar

“Ainda estávamos naquele esquema vitrolão, quando doutor Mário se aproximou, com o projeto de transformar a Rádio Cidade em uma rádio voltada pro jornalismo, prestação de serviço e interação com o ouvinte qaundo isso não existia na FM. A Metropole não mudou a forma de fazer rádio, inovou na forma de fazer rádio […], sempre acompanhando o que está acontecendo, com o objetivo de interagir com o ouvinte”. Parafraseando-o, ‘esse que vos fala’ é Abraão Brito de Queiroz, voz inconfundível e peças-chave da programação da Metropole.

Para ele, a interação com o público é a grande revolução e contribuição da radinha. E os investimentos do grupo confirmam isso. A Metropole foi a terceira rádio do Brasil a fazer a transmissão via internet e uma das que mais investe no audiovisual. Foi também pioneira em um sistema de comunicação interna e um portal de notícias. Tudo isso com os microfones sempre abertos ao público, sem pedir nome, telefone ou assunto. Houve um período até que os ouvintes tinham à disposição um número 0800 para participar. Eram mais de 200 ligações por dia. As três atendentes não paravam, recorda Simone Lins, responsável por essa função.

Hoje, além da ligação, é possível mandar mensagens, vídeos e áudios via Whatsapp, receber o Jornal Metropole, notícias do Metro1 e a edição do podcast Aos Fatos. Os podcasts, inclusive, que eram vistos como concorrentes do rádio, aqui ganharam espaço. Neste ano, por exemplo, foi lançado o MetroPod, que recebe semanalmente um entrevistado para falar sobre política. E não é só política que integra a programação. O Mojubá, no ar há cinco anos com Cristiele França, foi o primeiro programa sobre religiões de matriz africana na rádio baiana. Na mesma grade, José Medrado comanda o Sintonia tira dúvidas sobre espiritismo para seu público fiel. Tem espaço também piada e cultura com o mais autêntico jeito baiano, no Revele, com o diretor teatral Fernando Guerreiro, o produtor Valdir Andrade e o publicitário Zeca Forehead.

Metropress/Filipe Luiz

Parte e palco das notícias

Com uma antena apontando e transmitindo informação para mais de 300 municípios baianos, a Metropole sempre esteve junto aos acontecimentos. Nardele Gomes, um dos conhecidos nomes da programação da rádio, lembra da cobertura da morte do senador Antonio Carlos Magalhães. Havia equipe no aeroporto, no cemitério, no local do velório. Sempre com respeito e profissionalismo – marca da Metropole que já contribuiu para a formação de profissionais como Rita Batista, Jéssica Senra, Luana Montargil e tantos outros.

Nos grandes eventos esportivos, como Copa do Mundo e Olimpíada, também estavam lá as equipes da Metropole. Tóquio, África do Sul e Rússia foram alguns dos nossos destinos. Mas a radinha nunca foi só de noticiar os fatos. O nosso time de comentaristas é prova viva disso. Além da análise e da divulgação dos fatos, a Metropole já foi palco de grandes mudanças no cenário político. Quem acompanhava a disputa pela Presidência da República em 2002 deve lembrar de uma entrevista concedida pelo então candidato Ciro Gomes (na época PPS e hoje PDT). Ele, seus eleitores e até os especialistas em pesquisa eleitoral não imaginariam que aquela conversa seria decisiva para aquele pleito e a carreira do ex-ministro. Até então, Ciro tinha quase 30% das intenções de voto e a expectativa de ir para o segundo turno, mas uma resposta um tanto destemperada a um ouvinte repercutiu e foi usada nas propagandas de seu adversário José Serra (PSDB), para classificá-lo como “pavio curto”.

Esse mesmo microfone que tirou a oportunidade do segundo turno também já repercutiu a voz de presidentes da República. Dos sete chefes de Estado desde o retorno das eleições diretas, seis estão vivos e todos já foram entrevistados na Metropole. Lula foi o mais recente, em julho de 2022. Mas passaram também Dilma Rousseff (quando estava afastada durante o processo de impeachment), Michel Temer (assim que assumiu a presidência em 2017), além de Fernando Henrique Cardoso, Fernando Collor e até Jair Bolsonaro (então deputado federal).

A novela das eleição de 2022 para o governo da Bahia também teve um importante capítulo nesse estúdio. Foi aqui que o senador Jaques Wagner (PT) anunciou que o governador Rui Costa (PT) ficaria no governo até o final do mandato, o que significava que o vice João Leão (PP) não assumiria a gestão, como havia sido cogitado. A notícia via microfones da Metropole gerou um mal-estar e acabou com o rompimento de João Leão frente aos ex-aliados.

Foto:Acervo/Metropole

Onde os diferentes pontos de vista se encontram

Onde mais é possível ouvir – com minutos de diferença e um profundo poço de divergência de pensamento – comentários da professora doutora Malu Fontes e do filósofo Luiz Felipe Pondé? Onde é escutar em um mesmo programa análises sobre os avanços da tecnologia com o professor doutor André Lemos e histórias sobre a música brasileira com o maestro Paulo Costa Lima? Isso sem citar Wilson Gomes, Edvaldo Brito, Jolivaldo Freitas, Biaggio Talento, Francisco Hora, Helenita de Hollanda. Ou aqueles que já fizeram parte do time de comentaristas, como Moacyr Scliar, Sebastião Nery, Zuza Homem de Melo e até mesmo Alexandre Garcia.

Nesta semana, com ajuda de todos esses avanços tecnológicos instaurados na radinha, um ouvinte enviou uma mensagem ao Jornal da Bahia no Ar. Ele dizia: “Mário, ao longo desses anos sempre ouço você. Muitas vezes, fiquei chateado com sua postura, porém, na maioria das vezes, impressionado com sua inteligência, sensibilidade e resiliência. Interagir e admirar Janio de Freitas e contratar Bocão ou o complexo Pondé refletem, além da necessidade comercial, uma capacidade de lidar com um antagonismo incrível”.

Mas a verdade é que vai muito além do comercial ou talvez não tenha nada de comercial, diante de uma sociedade que tem dificuldades de lidar e ouvir o diferente. Por trás dessa escalação desse time de competentes e complexos comentaristas e apresentadores, há o árduo compromisso com a essência da palavra democracia e com a profundidade nas discussões e notícias. E essa, sem dúvida, é a maior contribuição que a Metropole oferece aos seus ouvintes e à comunicação brasileira. Uma contribuição estampa na sua programação, no seu time, acervo e história.
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Reportagem publicada originalmente no Jornal Metropole em 21 de dezembro de 2023 e no Metro1