Um dia para não comemorar e jamais esquecer

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Por Victor Pinto
Neste 8 de janeiro de 2024, um ano após o fatídico dia de 2023, não temos o que comemorar. Não é uma data comemorativa para nenhum dos campos ideológicos da política cotidiana. É um dia de história e de lembrança. Precisamos recordar daqueles que querem achincalhar a nossa democracia e as nossas instituições. Por mais que o estrago físico tenha sido grande, o feitiço do projeto se virou contra o feiticeiro e o poder institucional, não palpável, mas virtual, se uniu como nunca na história recente. 

Não foi a maioria do povo fiadora daquilo. Para tanto, Pesquisa Genial/Quaest divulgada neste fim de semana mostra que em todas as regiões, faixas de renda, escolaridade e idade, em torno de 90% dos brasileiros condenam os atos (em 2023, a desaprovação era de 94%). Conforme o professor Felipe Nunes, do instituto, entre os eleitores de Bolsonaro, o índice de desaprovação é de 85%. Entre os eleitores de Lula, chega a 94%. “A rejeição dos dois lados mostra a resistência da democracia brasileira. Diante de tanta polarização, é de se celebrar que o país não tenha caído na armadilha da politização da violência institucional”, aponta o cientista político.

Eleição é eleição e o mais votado vence. Acabou. É um jogo de futebol e quem fizer mais gols vence. Essa analogia de eleição e futebol se faz muito comum quando analisamos as “torcidas”, mas, na prática, uma trata de toda uma cadeia econômica e social e faz sair vencedor quem melhor tem um projeto de gestão, diga-se de passagem, e a segunda com aspectos físicos de habilidades beirando mais ao lazer. Por mais que seja o ideal, eu ainda abraço e defendo o nosso processo democrático do povo para o povo. É o regime dos diferentes numa convivência e sua manutenção é uma tarefa diária em atividade. 

Para além dos agentes e suas instituições de poderes, a comunicação tem papel crucial no processo de sustentação da democracia. Nós, jornalistas, formadores de opinião, somos partícipes dessa missão. Certa vez li um texto do professor Wilson Gomes que dizia: “o que torna a comunicação relevante para a democracia não é apenas o fato dela poder contribuir para a vida democrática, mas também o fato de que ela pode se tornar uma força antidemocrática muito importante”. O poder de organização favorável ou contra a democracia nasce pela disseminação de informação e a comunicação, como dito, tem papel central nisso. Separar o joio do trigo não é fácil, mas uma ação necessária. 

Aqueles argumentadores da liberdade de expressão na busca de resumir todo aquele acontecido nesse aspecto do protesto são os mesmos que pavimentam as ditaduras, que não suportam o povo e só pensam nas bolhas reacionárias ruminantes de preconceitos e ódios. O basta precisa ser implacável. A democracia é tão democrática que aceita ouvir até quem é contra ela. Já eu acho isso democracia demais. Se faz necessário ser intolerante com os intolerantes. Ponto. 

Quem se faz contra o processo democrático, se faz contra a Constituição. E para estes, fico com as palavras de Ulysses Guimarães no ato de promulgação da nossa Constituição, o texto, para mim, se assemelha a uma oração e utilizo para encerrar esse artigo: “Quanto a ela [a CF’, discordar, sim. Divergir, sim. Descumprir, jamais. Afrontá-la, nunca. Traidor da Constituição é traidor da Pátria. Conhecemos o caminho maldito. Rasgar a Constituição, trancar as portas do Parlamento, garrotear a liberdade, mandar os patriotas para a cadeia, o exílio e o cemitério. Quando após tantos anos de lutas e sacrifícios promulgamos o Estatuto do Homem da Liberdade e da Democracia bradamos por imposição de sua honra. Temos ódio à ditadura. Ódio e nojo”.

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Jornalista/ twitter: @victordojornal