Por Eliecim Fidelis
“Bendito o que semeia livros à mão cheia e manda o povo pensar!”.
Visando aproveitar os últimos sopros deixados pelo verão em despedida, e para comemorar o dia mundial da poesia, aceitamos de bom grado o convite de um casal amigo para uma esticada até a sua aprazível casa, em Praia do Forte. Saímos cedo para evitar o congestionamento comum naquela via.
Na entrada da vila, a circulação de veículos já se intensificava, mas sem comparação com o que viria depois. Foi quando nos chamou a atenção uma movimentação atípica: pessoas de diferentes idades e portes, algumas senhoras e jovens, carregavam mudas de árvores nos ombros, outros ajudavam a colocá-las em dezenas de covas abertas no chão. O entusiasmo daquelas pessoas e as circunstâncias do momento trouxeram-me a lembrança do verso acima.
Não é novidade dizer que o mundo clama por cuidados com a natureza, por ações de preservação do meio ambiente e iniciativas em prol da sustentabilidade. E assim gostaria de aproveitar o espírito castro-alvense para louvar a iniciativa do plantio de oitenta a cem mudas nativas naquele local.
A iniciativa realizada no sábado, vinte e dois de março, buscou contribuir para a recuperação do ecossistema local, e foi fruto de uma parceria entre o TEDx Praia do Forte 2025, o Projeto de Agrofloresta Muri, a ONG Aruá Observação da Vida Silvestre e a Secretaria de Turismo de Mata de São João.
O objetivo é ampliar a conscientização da população local sobre a importância da preservação da Mata Atlântica, que é um dos biomas mais ricos e lamentavelmente um dos mais devastados do Brasil.
Com o plantio de árvores nativas, os organizadores do evento também esperam promover a proteção de espécies da fauna local que se encontram em risco de extinção. Esse é o caso, por exemplo, da preguiça-de-coleira ou preguiça-preta (Bradypus torquatus), bem como do ouriço-preto ou luís-cacheiro-preto, o Chaetomys subspinosus.
As características naturais desses animais podem ser, hoje em dia, vistas como sinais dos tempos: a mancha escura na nuca dos primeiros parece chorar o luto pelos similares perdidos ou ameaçados. Enquanto o luís-cacheiro, apavorado, apela para sua capacidade de camuflar-se entre a vegetação, e assim ainda consegue nos oferecer a sensação de paz que sentimos ao contemplá-los.
Merece aplausos a união liderada pela organização do TEDxPF com a sociedade civil e instituições públicas e privadas da região, por estarem fazendo sua parte e deixando um exemplo a ser seguido.
E para terminar pelo começo, voltemos ao poeta para dizer: Bendito o que semeia mudas à mão cheia e faz o povo plantar / A planta caindo n’ alma é germe que faz a palma / A muda que na cova cai é a próxima planta que sai.
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Psicanalista e escritor, membro do Espaço Moebius Psicanálise – fidelis.eli@gmail.com