Vá você e brigue por político de “estimação”…

  • Post category:ARTIGOS
No momento você está vendo Vá você e brigue por político de “estimação”…

Por Victor Pinto

A política deveria ser, antes de tudo, o espaço para o debate de projetos. Ideias diferentes sobre como conduzir o Estado, propostas distintas para educação, saúde, segurança ou economia. No entanto, parte do eleitorado insiste em transformar a política em campo de paixões pessoais, como se o voto fosse um ato de torcida. Essa postura gera uma contradição visível: enquanto muitos brigam nas ruas ou nas redes sociais em nome de seus políticos de estimação, os próprios políticos, esses mesmos que se enfrentam nos palanques, são capazes de, em pouco tempo, refazer alianças e se tornarem parceiros de jornada. Volta a lógica que já tratei aqui em outros artigos e vale você pesquisar sobre teatro político, como salienta o professor Wilson Gomes. 

A recente reaproximação entre ACM Neto e Roberta Roma é um exemplo concreto mais recente. Após anos de ataques públicos e distanciamento provocado pela decisão de João Roma de se alinhar a Bolsonaro, a relação foi reatada. A deputada federal chegou a publicar que “o amor voltou a imperar”, destacando a reconstrução do diálogo com Neto. 

Ora, se para eles a divergência de ontem já não é obstáculo, por que o eleitor precisaria carregar mágoas políticas como se fossem pessoais?

Outro exemplo emblemático é a aliança entre Lula e Geraldo Alckmin. Durante anos, foram adversários ferrenhos, protagonistas de embates acalorados, inclusive em eleições presidenciais. O que parecia impossível tornou-se realidade em 2022, quando Alckmin foi escolhido como vice de Lula e ambos venceram a disputa. Não foi um gesto de afeto, mas de pragmatismo político. 

Lula precisava ampliar sua base e dialogar com setores do centro; Alckmin encontrou no acordo uma forma de se manter ativo no cenário nacional. Resultado: antigos rivais uniram forças por um projeto comum.

Esses casos mostram o óbvio que muitos eleitores preferem ignorar: política não é sobre lealdades eternas ou inimizades irreversíveis, mas sobre circunstâncias e objetivos. Adversários de hoje podem ser aliados amanhã, e aliados de hoje podem se tornar adversários no futuro.

O erro está em quem, do lado de fora da arena política, encara esses movimentos como traições pessoais ou motivo para inimizades.

É legítimo que haja preferências partidárias e simpatia por lideranças. Mas é ingênuo acreditar que elas funcionam como vínculos de devoção. O eleitor precisa lembrar sempre que política é, essencialmente, negociação e composição. O que vale não é o amor ou o rancor entre figuras públicas, mas os resultados que esses arranjos produzem.

Então, vá você, abestalhado, confundir o que seria o CNPJ pelo CPF, levar para o campo pessoal briga eleitoral. Enquanto muitos brigam, bloqueiam familiares em redes sociais e carregam mágoas em nome de políticos, eles seguem fazendo o que sempre fizeram: alianças estratégicas independente de escrúpulos ou jogo moral. O lucro eleitoral é o que importa. A conferir. 
————————————————-
Jornalista// twitter: @victordojornal