Por Carlos Brasileiro
Na última quinta-feira (11) o Secretário de Relações Institucionais do Governo do Estado (SERIN), Adolpho Loyola, recebeu o título de cidadão soteropolitano. A badalada cerimônia de entrega da iniciativa proposta pelo vereador João Cláudio Bacelar, realizada na Câmara de Vereadores de Salvador, no entanto, revela um momento política ímpar da política baiana moderna. Não por causa de ter mobilizado grandes e variados nomes do poder estadual, mas pela razão disso.
Nascido em Itanhém, Adolpho se destaca como o principal articulador político do governo Jerônimo Rodrigues. Escolhido como chefe de gabinete após as eleições de 2022, é conhecido por sua alta habilidade política e trato sofisticado que o tornam bem quisto por políticos de todos os espectros e partidos. Contudo, após assumir a SERIN, em dezembro de 2024, sua atuação como ponto focal da gestão de Jerônimo Rodrigues ganhou crescente destaque.
Sem herança política familiar ou sobrenome que o credencie automaticamente, Adolpho é riundo do movimento estudantil e da juventude do PT, com experiências em entidade secundarista e no Diretório Central dos Estudantes da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Mas Loyola não chama atenção pela forma única que desempenha sua função.
Desde que se iniciaram os governos petistas na Bahia, com a então surpreendente vitória de Jacques Wagner, em 2006, jamais se viu um quadro da administração desempenhar centralidade similar à do Secretário.
Ora, pode-se argumentar que essa mesma posição foi ocupada por Rui Costa e que este veio a ser o sucessor de Wagner. E é verdade. Porém, ao contrário do que atualmente ocorre com Adolpho, o ex-governador correria, já aquela altura, era conhecido pelo trato firme, muitas vezes caracterizado como duro, ríspido e até mesmo grosseiro. (Nada que o desqualifique como gestor público, vide as urnas apontaram 2014, 2018 e as pesquisas apontam em 2025.)
Estive com Adolpho no evento que marcou a ida do PDT para o governo do estado. Citado uma vez como parte do time pelo deputado federal Félix Mendonça Jr., nosso líder político e presidente estadual da sigla, fui em direção ao chefe da SERIN ao fim do evento com a intenção de me apresentar. Comecei com “sou presidente da juventude do PDT, membro da…” e sequer tive a chance de completar. Fui interrompido com um decidido e cheio de propriedade “eu sei quem você é”. Surpreso, só tive a chance de agradecer, reafirmar nosso compromisso enquanto partidos aliados de histórias irmãs e dizer que ele era o que se acostumou chamar no mundo político-empresarial de case de sucesso de toda uma geração de “filhos de ninguém”.
E é. Sem milhões de reais, sem negócios e sem herança política construída por pai, tio, avô ou quem quer que seja. Um quadro formado na trincheira de um partido – e grupo político – que compreendeu a centralidade de sua renovação em tempo hábil. Curiosamente – ou não – seu post oficial no Instagram sobre o evento que deu causa a este artigo, é embalado pela clássica letra de Belchior cantada pelo pai do axé music, Luiz Caldas:
Eu sou apenas um rapaz latino-americano
Sem dinheiro no banco sem parentes importantes
E vindo do interior
Símbolo do modelo de fazer política que o governo carrega, sobretudo tendo como referência o galego, o desempenho da agenda sempre lotada de Adolpho impressiona: prefeitos, ex-prefeitos, vereadores, secretários, deputados estaduais e federais, candidatos e candidatas, lideranças de movimentos sociais e todas as pessoas que podem ditar a política baiana cercam sentados sua mesa marrom na governadoria.
Por mais que variem os partidos e espectros políticos de seus visitantes – sendo portanto eles petistas e lulistas de carteirinha ou aliados pragmáticos que não professam fé de esquerda – não há quem saia se queixando das reuniões com Loyola, um exímio praticamente da máxima de Jacques Wagner da conciliação de “não matar o boi e nem deixar faltar a carne”.
Um exemplo da capacidade aglutinação? O perfil institucional do secretário nas redes sócias posta, invariavelmente, mensagens de parabéns e feliz aniversário para quadros da oposição assumidamente netistas/carlistas, que quiçá poderiam ser classificados até mesmo como antipetistas.
E como não se bate em árvore que não dá fruto, já estão de plantão os representantes de uma dor de cotovelo cafona, questionando “quem é esse que recebeu o título de cidadão de Salvador?”.
Não à toa, já há quem responda a pergunta apontando-o como sucessor natural de Jerônimo Rodrigues.
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Advogado, presidente da juventude e tesoureiro do PDT da Bahia