Por Liliam Andrade
Chega essa época do ano e ainda bem o ano novo não começou, já se iniciam as velhas tomadas de decisão, os velhos clichês que vão perseguir o cidadão durante todo o ano (se é que a dosagem etílica na festa não provocar uma amnésia definitiva). Há os que prometem que não vão mais beber, outros que não vão mais fumar… desejar a mulher do próximo, então!!! Eu conheço pelo menos meia dúzia de “fiéis” que todo ano fazem a mesma promessa.
Entra ano e sai ano e a dívida com o santo só faz crescer; tem até os que assinam contrato, uma espécie de “compromisso pessoal”. Tem também os que fazem listas das lições aprendidas no ano que passou e as metas para o ano que vai chegar. Tem meta pra mulher emagrecer, arranjar marido, emprenhar e as mais entediadas que não veem a hora de ficar viúva pois não aguentam mais ser “cuidadora”.
Com a minha amiga não foi diferente, ela já passava do cabo das Tormentas mas a Boa Esperança ainda lhe dava fôlego para mais uma tentativa. E lá se foi ela toda de branco como manda a tradição. Calcinha nova, vermelha, comprada no camelô da avenida Sete – pra dar sorte no amor – e uma nota novinha de R$200,00 dentro da calcinha pra não faltar dinheiro o ano inteiro. O “lobo guará” ficou meio constrangido com o local escolhido mas, se ajeitou como pôde. Em pleno Farol da Barra, comprou uma caipifruta no primeiro isopor que encontrou e depois de duas doses saiu cantando… “hoje eu não quero saber de ouvir dizer que não vou dar… vou ter que dar, vou ter que dar…” e já nem lembrava que ainda não era carnaval.
Lá pras tantas horas e tantas caipifrutas deu-se a contagem regressiva e eis que de repente um “deus grego” surgiu à sua frente com movimentos sensuais que a deixaram paralisada, tomou seu copo e virou todinho!!! E ela lembrou do seu pedido “Ano Novo, vida nova com amor novo”; não se fez de rogada, mergulhou fundo naqueles olhos que mais pareciam o céu de brigadeiro, um azul cristalino e ela voou alto. No mesmo instante ele a arrastou pra trás do Forte de Santo Antônio, onde o farol não iluminava NADA. E foi aquele rala e rola que ela já não sabia se estava nas nuvens ou era a fumaça do churrasquinho de gato na vizinhança.
Depois de muitos apertos ele disse que ia buscar outra caipifruta e que ela poderia esperar ali mesmo. E as horas foram passando e nada dele voltar, e nada dele voltar… Até que deu vontade de fazer xixi e qual não foi sua surpresa ao se ajeitar no sanitário químico, percebeu que o “lobo guará” havia fugido.
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Jornalista/liliandrade2010@gmail.com