Por Victor Pinto
Eu não sabia se era uma convenção ou um culto religioso. O prefeito de Salvador, Bruno Reis (UB), em uma convenção apoteótica, uma das maiores já vistas na capital do Estado, fez um senhor aceno à grossa parcela do eleitorado de soteropolitano ligado à religião, pois, você leitor, goste ou não, essa parcela é a maioria do público que vai às urnas no próximo dia 6 de outubro, conforme as pesquisas.
Com direito a hino de louvor e a recitação do Salmo 23, Bruno foi o primeiro a homologar a candidatura à prefeitura da capital na semana passada. Mostrou força ao fazer um evento repleto de lideranças políticas, inclusive com o presidente nacional do partido, Antônio Rueda.
No discurso, soube ser grato a ACM Neto, seu padrinho político, principalmente na eleição de 2020, mas ficou nítido que agora ele busca pelo seu próprio protagonismo no campo de 2024. “Sou grato para quem me dá oportunidades. Eu não traio ninguém. Eu não mudo de lado. Eu não sou lá e low. Eu não sou lero lero”, discursou vociferando. O recado foi para Geraldo Júnior (MDB).
Além do ataque já citado, tiveram outros ao seu principal adversário, principalmente durante a coletiva de imprensa. Deixou claro que vai para um enfrentamento com sangue nos olhos. Questionei-o sobre a expectativa dita por Geraldo em entrevista na Band de que sabe jogar em campo de grama sintética e também em campo de várzea, uma clara mensagem no moldes do “se me atacar, vou atacar”. Bruno disse que jogou bola na infância descalço no asfalto tomando topada no chão. Então está preparado.
O prefeito quis imprimir uma marca própria e, conforme Elmar Nascimento (UB), disse durante conversa com os jornalistas, o seu colega de partido não precisa de muleta para ganhar a eleição. Disse isso em provocação à possível participação de Lula (PT) em Salvador na campanha do principal adversário. Pode até não precisar agora, mas precisou de uma na eleição passada. Agora será a avaliação da inerência da sua gestão.
Outro detalhe importante: reafirmou sua presença no próximo debate da Band Bahia e Band News FM Salvador no dia 8 de agosto, a partir das 22h15. Há quem diga que será o único com a presença do prefeito. O único, até então, em análise pós-Band é o da TV Bahia.
Refutou qualquer clima de já ganhou na sua campanha e, principalmente, na sua equipe. Também pudera: esse é o pior veneno de qualquer candidatura, seja ela qual for.
ACM Neto, também presente, no seu discurso pareceu ter esquecido que se tratava da convenção de Bruno. Em discurso pró-candidatura em 2026, deixou claro que está se reerguendo no campo opositor para um futuro enfrentamento contra Jerônimo Rodrigues (PT).
Em suma, a convenção teve tudo que deveria ter, como um tradicional evento reza. Povo, zoada, fanfarra, política e discurso.
Na oposição, Kleber Rosa (PSOL) e Victor Marinho (PSTU) também já homologaram seus nomes. Fizeram convenções mais tímidas, mas com discursos incisivos de combate, principalmente, à estrutura netista na prefeitura e a não representação do campo da esquerda pelo nome abençoado pelo governador Jerônimo, o do vice-governador Geraldo. A equipe do emedebista promete uma convenção no próximo fim de semana tão grande quanto a de Bruno Reis. Precisa, principalmente, para mostrar unidade do grupo governista. A conferir.