Por Zédejesusbarreto
Édson, tinha nome de rei. Esbelto e forte, metro e noventa, pernas longas e ligeiras, zagueiro mais técnico que viril, fominha, postura de vencedor em campo, jogava simples, tinha boa visão do jogo, era o capitão do time, final de um campeonato renhido, decisão no campo do rival, bastava o empate. Fazia uma partida impecável, cobrindo, afastando, orientando, tratando bem a redonda, suportando com galhardia a pressão do adversário, inteiro em cima, tudo parecia sob controle até os 43 minutos da fase final…
O chutão veio de longe, no desespero e pelo alto, sem grandes pretensões. Logo Edson anteviu que a bola ia pingar em sua direção, a intermediária defensiva. Passou os olhos, ninguém próximo, o melhor e mais seguro seria o recuo, até para gastar um pouquinho mais de tempo e garantir o empate, o título. Foi girando o corpo, esperou ela quicar e, de prima, deu um tapa nela para trás, na direção do goleiro, parceiro antigo.
Então, aterrorizado, se deu conta de que o goleiro saíra em sua direção e o flagrou de braços abertos e olhos arregalados espiando a pelota mal tocada passar, encobrindo-o, rumo às redes. Inexorável.
Acabou.
Não chorou diante dos adversários e dos companheiros que o procuravam consolar.
Título perdido. Lágrimas madrugada inteira, só, lavando a vergonha, insone. E a decisão inabalável de jamais jogar uma partida como profissional. Tinha apenas 20 anos, tido como grande promessa, sonhos de seleção.
Sumiu, virou gerente de banco. Não torce, não fala de futebol, não vai a estádio nem vê jogos pela tevê. Vez ou outra, forçado por amigos e estimulado por umas cervejas chega a pegar uns babinhas, fim de semana, com uma condição: “Só vou de centroavante”.
Até faz uns golzinhos de cabeça.