Por Elieser Cesar
Não gosto de ler em plataformas digitais. Tenho necessidade da materialidade do livro, de pegar, abrir e até cheirar, no instante em que o compro, sopespar (quando volumoso), o algodão das palavras espalhadas num mágico quadrilátero branco.
Também preciso ver o livro na estante, nem que seja por um instante, mesmo distante, mas ainda emitindo uma mensagem secreta e pessoal: Estou, aqui, quietinho, mas, dentro de mim há deuses e demônios, alegrias e tristezas, comédias e tragédias. Nada mais sou do que o dicionário da vida. Venha me pegar, uma ou quantas vezes desejar. Você bem sabe que estou ao seu alcance, a um palmo da mão.
O melhor mesmo é comprar um livro. Saímos da livraria com a sensação empresarial de que investimos na melhor Bolsa de Valores, num câmbio de lucro recôndito , numa rentável aplicação espiritual, numa letra resgatável, na compensação de uma aposta.
Também, não sendo emprestado (embora, emprestado e devolvido, todo livro continua nosso, eterno e indissolúvel como um rochedo do mar), gosto de pegar uma caneta Bic e grifar (por pouco não saiu gritar, o que não faria muita diferença) os trechos aos quais sei que retornarei.
Então, começo a pensar numa estante, repleta de livros, não de jarrinhos, bibelôs e de retratos de parentes mortos e de outros que nos julgam em outro mundo, (o que tem lá o seu sentido.) As estantes com livros são os armários da almas, as asas da imaginação, as nuvens da fantasia.
E que prazer pegar um livro antigo e estragado pelo tempo, e, com uma cola, um durex ou uma fita adesiva, fazer um curativo de suave durabilidade. E (deleite ainda maior!) pegá-lo para reler, com aquela alegria de reencontrar um velho amigo: olá, há quanto?
Ainda, por fim, ter a certeza que o livro nos espera como um cão fiel ou gato de páginas peludas.
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Escritor e jornalista