Overclean no novo mapa da tensão política na Bahia

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Por Victor Pinto

A quarta fase da Operação Overclean marcou uma virada no jogo político da Bahia. Até então, o foco das investigações estava centrado em figuras ligadas ao União Brasil e seus líderes — Bruno Reis, ACM Neto, Elmar Nascimento. Mas agora, o cenário mudou. A operação alargou sua lente e passou a mirar também quadros ligados ao PDT, e filiados do PSB e até do PT, partidos da base do governador Jerônimo Rodrigues.

E o que elevou o nível? A entrada direta do Supremo Tribunal Federal no circuito. Foi a primeira fase da operação autorizada pelo ministro Kassio Nunes Marques, abrindo uma nova instância de responsabilidade, pois personalidades de foro privilegiados estão no escopo. Saiu da terra do dendê e virou pauta nacional, com possíveis desdobramentos de peso para Brasília.

No Palácio de Ondina, a reação foi contida. O governador Jerônimo adotou um tom cauteloso. E não é para menos. Ainda que seu nome não esteja na lista, a operação começa a encostar em partidos aliados. Em ano ímpar, com os blocos de 2026 sendo montados, ninguém quer estar no centro de um furacão judicial.

O que a Overclean expõe, na prática, é um esquema sofisticado de desvio e uso político de emendas parlamentares, com suspeitas de intermediação de prefeituras, ONGs e contratos turbinados. O tipo de escândalo que, quando estoura, não escolhe lado. Tem mostrado ser transversal, atinge membros do governo e da oposição, veteranos e novatos, gestores e operadores.

Essa fase da operação mexe com o cenário político porque derruba a narrativa confortável de que se tratava apenas de uma “ação contra o grupo de Neto”. Agora, o caldo entornou. A postura do “isso não nos afeta” não se sustenta mais.

Ao subir para o STF, a operação também ganha novo fôlego investigativo. Os relatórios, até então concentrados na Bahia, agora serão lidos com outros olhos. O envolvimento do Supremo eleva a pressão sobre todos os envolvidos e força os partidos a fazerem uma espécie de auditoria interna preventiva.

A classe política já entendeu que esse processo pode ter capítulos inesperados. A tensão está no ar. Com 2026 se aproximando, a Overclean já é vista como uma variável real na equação eleitoral. Ninguém quer ser surpreendido por um mandado de busca em plena pré-campanha.

O curioso é que o nome da operação — Overclean — remete a algo “limpo demais”, artificialmente purificado. Ironia fina. Porque, no fim das contas, ela está revelando justamente o oposto: um ambiente turvo, de articulações nebulosas e práticas que desrespeitam o interesse público.

Se há algo certo neste momento, é que o jogo político na Bahia virou outro. E até que se prove o contrário, todos estão no tabuleiro. E quem achar que pode sair ileso, que observe as próximas fases. Elas já estão no forno — e podem atingir mais nomes do que se imagina. A conferir.