Wagner da Silva Ribeiro, poeta e jurista

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Por Gilfrancisco

Arte Poética

(À memória de Wagner Ribeiro. Culto e humilde era grande o poeta)

Avesso a contendas rasteiras

Repelia palavras e rimas oferecidas.

Serenados os ânimos

Intervinha, polia, ordenava.

O compromisso com o idioma

Cobrando perfeição

Cordas d’alma exigindo

musicalidade e harmonia.

Hora precisa do fino lavor de ourives.

E o maestro, metade deus, metade servo

Dava sopro ao verso

E o verbo passava a habitar entre nós.

                                Marcelo Ribeiro

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Nos primeiros meses de 1996, já residindo em Aracaju, fui levado pelas mãos do radialista Ludwig Oliveira, a residência do poeta e professor da UFS, Alberto Carvalho (1932-2002), para conhece-lo e participar das sessões literárias realizadas aos sábados, com direito a cervejinha. Foi nesse ambiente que conheci Wagner Ribeiro. Quando soube que eu e meu pai éramos amigos de José Calasans, o laço de amizade estava feito. O historiador sergipano era seu tio, eu havia trabalhado com Calasans durante o reitorado sergipano: Macedo Costa Reitor e José Calasans seu vice. Desfrutei da amizade de ambos os poetas. Com a morte de Alberto, passei a frequentar a casa de Wagner semanalmente, para almoçar com seus familiares e ele fazia questão da presença de outro amigo, Léo Mittaraquis. Fiquei muito triste quando visitei o amigo no hospital, dois ou três dias antes do seu falecimento. Aquele quadro dantesco me fez lembrar o que havia passado João Ubaldo Ribeiro.

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Família Ribeiro

Seguindo uma linhagem de escritores sergipanos, já perpassando três gerações. Tudo tem início com o rico comerciante e mecenas de literatura, vindo de Simão Dias, José da Silva Ribeiro, intelectual pioneiro no universo das letras, um homem de poucas letras, mas de grande inteligência, seu avô, criador da A Hora Literária do Santo Antônio (1919-1929), que funcionava na residência do próprio coronel, é patrono de honra da Academia Sergipana de Letras. A Hora Literária foi talvez o movimento cultural mais expressivo da época no Estado, frequentado por intelectuais e artistas da província, que deu suporte para a criação da Academia Sergipana de Letras, em 1929.

Seu Pai José da Silva Ribeiro Filho (1907-1976), juiz e poeta, autor de A Estrela e a flor, livro de poemas (1976), que teve uma 2ª edição publicada durante as homenagens do seu centenário de nascimento. A atividade literatura estava presente em casa e foi abraçada pelos filhos, Wagner da Silva Ribeiro (advogado), José da Silva Ribeiro Neto (engenheiro) e Marcelo da Silva Ribeiro (médico). Atualmente chegaram os netos, Paloma e Andrei, são alguns nomes da família que possuem livros publicados.

Formação

Wagner da Silva Ribeiro, filho de José da Silva Ribeiro Filho (1907-1976) e de Joana Brandão da Silva Ribeiro, sergipanos, nasceu em Ilhéus (BA), em 18 de março de 1944. Três anos depois, estava residindo em Aracaju, onde iniciou o curso primário no Colégio do Salvador e concluiu no Salesianos – N. S. Auxiliadora, instituição na qual cursou o ginásio. Em seguida matricula-se no Ateneu Sergipense e cursa o primeiro ano científico, transferindo-se em seguida para o curso clássico, concluído em 1961. Anos depois, o jovem Silva Ribeiro ingressou na Faculdade de Direito de Sergipe, bacharelando-se em 1966.

Entre os anos de 1973-1974 realiza curso de pós-graduação (Aperfeiçoamento e Especialização), como bolsista do Governo Francês no Institut d’Etudes du Travail e de la Socurité Sociale – Université Jean Moulin, Lyon-França.

Magistério – Em 1970 ingressou na Universidade de Federal de Sergipe, como Auxiliar de Ensino e submeteu-se a concurso história do Brasil h para professor Assistente em 1978. Passou a professor Adjunto do Departamento de Direito, cargo no qual se aposentou. O professor Wagner Ribeiro na UFS, lecionou as disciplinas: Direito do Trabalho, Direito Processual do Trabalho e Direito e Legislação Social, Direito Comercial Marítimo, Estágio Profissional. Na Universidade Tiradentes – Unit, lecionou as disciplinas Legislação Social e Direito Processual do Trabalho. Foi ainda, professor da disciplina, História do Brasil na Escola Normal e de Economia Política, na Escola Técnica do Comércio em Propriá (1966-1967)

Durante muitos anos, o professor Wagner Ribeiro, ministrou uma dezena de cursos, alguns como:

            Curso de Especialização em Segurança do trabalho

            Curso de Especialização em Medicina do trabalho

            Curso de Especialização em Administração de pequenas e médias empresas, todos promovidos pela Universidade Federal de Sergipe – UFS

            Atuou também como professor no Centro de Estudos Jurídicos, em Aracaju, lecionando as disciplinas: Direito do trabalho e Direito Processual do trabalho.

Instituições – Na qualidade de advogado, o professor Wagner Ribeiro fez parte de várias instituições: Membro da Associação Ibero-Americana de Direito do Trabalho e da Seguridade Social (Buenos Aires); Colaborador em revistas literárias e científicas (Direito), Chevalier dans l’ordre des Palmes Académiques (França), Diploma de Mérito Cultural da República Helênica, Membro da Academia Sergipana de Letras –  ASL, cadeira nº 11, que pertenceu ao pai, José da Silva Ribeiro Filho (1907-1976), tendo tomado passe em 10 de outubro de 1980, Sócio correspondente da Academia Mineira de Letras, Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe e da  Internacional Writers and Artists – IWA (USA).

            A União Brasileira de Escritores-RJ, concedeu-lhe o Diploma de Personalidade Cultural, 2005; O Prêmio Joaquim Norberto – Ação Cultural e Obra Literária, 2007; e o Prêmio Centenário de Silva Ribeiro Filho, 2008.

Colaboração em Revistas e Livros

            Curso de Direito do Trabalho, coautor, Editora Forense.

            Reflexões sobre o protecionismo do Direito do Trabalho. Revista do Tribunal d Justiça do Estado de Sergipe, 1975.

            Carvalho Neto e o Direito do Trabalho. Revista Momento, 1980.

            Justiça do Trabalho e Reformas Alternativas. Anais da X Conferência Nacional da OAB.

            Cargos de Confiança: condições e efeitos do exercício. Noções atuais do Trabalho, LTR, 1995.

            Direito do Trabalho e a Administração Pública. Estudos de Direito, LTR, 1998.

            Contrato de Trabalho: Requisitos de validade, conteúdo, nulidade, renúncia e transação, tempo de serviço.

A obra wagneriana

            Cantares do Mar Egeu, 2001. (Diploma do Mérito Cultural conferido pela República Helênica – Consulado Geral da Grécia do Rio de Janeiro).

            A angústia de Zeus, 2004. (Prêmio Lacyr Schettino – hors concours – da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais – e, Prêmio Capital, 2004).

            Memorial do Aedo, 2004 (Prêmio Capital, 2005).

            A vida cheia de Véu, 2006.

            Cantar de Ariadne, 2008.

            Cantar do Minotauro, 2009.

            J. Inácio vida e obra, 2009.

            Tributo aos Deuses Lares, 2010

            Sonetos, 2012.

            Ave, Caesar… 2013 (Participa da antologia Perfil Grécia em poetas do Brasil (seleção de Stella Leonardos), publicação do Consulado Geral da Grécia do Rio de Janeiro.

            Uma visão de aedo, 2015

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A Crítica

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Lamentarei se, como sempre, pairar sobre “Catares do Mar Egeu” o silêncio da crítica brasileira, principalmente do “Sul maravilha”.

São os ossos do escrever na província.

Cantares do Mar Egeu, Alberto Carvalho

Cantar de Ariadne valoriza e complementa verdadeira tetralogia helênica, quarta parte de um longo poema importante, épico-lírico, que poderia, perfeitamente, ser editado num só volume.

Cantar de Ariadne, Stella Leonardos

Não se pense que A angústia de Zeus é apenas o resultado de uma idiossincrasia. Como se seu autor o tivesse escrito para falar do que gosta e domina, a mitologia grega, num deleite pessoal. Á medida que avançamos na leitura dos poemas (é preciso lê-los na ordem em que aparecem), vamo-nos dando conta de que não é para falar de Zeus e seu séquito que Wagner escreveu este livro. Ele o escreveu para falar dos desatinos do homem durante todos estes nossos séculos de História nada leve.

A Angústia de Zeus, Antônio Carlos Viana

Li e reli, encantado, Cantares do Mar Egeu. Os deuses estão de volta. E o fizeram através de uma poesia de sonho e de magia que, em tudo por tudo – falo em tese – fogo à banalidade, ao fôlego curto, à descarnada planura das letras atuais.

Cantares do Mar Egeu, Mário Cabral

A poética wagneriana tampouco oferece concessões. É preciso que o leitor lance mão de todo o seu lastro enciclopédico (se o possuir) e ainda busque dados nos tratados sobre mitologia e cultura helênica para compreender a grandiosidade da obra e perceba o quanto esta custou ao poeta que soube fazer, sob as merecidas benções de Calíope, valer o trabalho e os dias.       

Cantares do Mar Egeu, Léo A. Mittaraquis

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Nem, tampouco, a de Wagner Ribeiro, que, neste Cantar de Minotauro, dando as costas à tradição mitográfica greco-latina, representada por Apolodoro, Diodoro Sículo, Plutarco, Virgilio, Ovídio e Higino, ousadamente convoca o próprio Monstro, nascido da conjunção de uma rainha, Pasífaa, com um touro, para que narre sua história terrível.

Cantar do Minotauro, Sergio Pachá

Memorial do aedo não é, pois, um livro a mais para celebrar as glórias do Olimpo, dos Divinos, dos potentados, mas um cântico novo de louvor ao Verbo, através da magia da erudição com que as musas, solenemente, ao poeta premiaram…

Memorial do aedo, Carmelita Fontes

Wagner prefere o estilo leve que a bem dizer, é mais difícil (quando de boa qualidade literária) que o mais complexo e solene. Seu estilo é leve, sem cair no vulgar, sendo irônico, é sutil, não resvalando para o fácil engraçado, e sendo mordaz, não é virulento, nem possui azedume. E às vezes, atinge tons líricos e em outros o pícaro.

A vida cheia de véu, Célio Nunes

                    Post-scriptum

                                             Literatura de Cordel

            É uma manifestação cultural bastante popular na região Nordeste do Brasil. Os textos que compõem esse tipo de literatura apresentam caráter narrativo. Porém, são escritos em versos regulares. Tais textos são caracterizados por uma linguagem simples, satírica e regional. E são impressos em folhetos.

            Em sua juventude universitária, o poeta Wagner Ribeiro escrevia epigramas endereçados aos colegas e professores, mas isso não agradou o pai e imediatamente deixou “temporariamente” de escrever. Nos anos 2000 ele retoma os folhetos de cordéis, publicando uma série sobre os acontecimentos do momento. Imprimia-os artesanalmente em sua impressora doméstica e os distribuía aos amigos, todos com pseudônimos engraçados. Vejamos alguns títulos:

A lição que o intestino deu ao ilustre juiz Justino; Vavá do Caipe (2002) – Lula e o vampiro ianque; Resemiro do Caipe (2007) – Renan Calheiro – putanheiro injustiçado – no Panteao Nacional; Zezinho de Ararapica – (2007) – A “CPI da Tapioca” irá ficar nos anais; Rosemiro do Timbó (2008) – A Trageda de Edipo e os pade Pedofilo; Zeca de Peleu (2008) – Vamo sortá Danié; Tonico da Samambaia (2008).