Pesquisas na Bahia: fotografia do momento ou armadilha da previsibilidade?

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Por Victor Pinto

A divulgação da nova pesquisa do Instituto Paraná sobre o cenário eleitoral da Bahia em 2026 causou burburinho nos bastidores da política estadual. A sondagem, realizada no final de julho de 2025, mostra o ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil) liderando com ampla vantagem sobre o atual governador Jerônimo Rodrigues (PT), tanto em primeiro quanto em segundo turno. No entanto, diante do histórico político da Bahia e das teorias da ciência política, é preciso cautela. Uma pesquisa tão antecipada pode dizer muito — mas também pode enganar.

Historicamente, a Bahia tem revelado um comportamento eleitoral complexo, que desafia leituras simplistas. Em 2022, por exemplo, o mesmo ACM Neto chegou a liderar todas as pesquisas com folga até poucos dias antes da eleição, com exceção da desconhecida Atlas Intel, mas quando acabou derrotado por Jerônimo, um nome menos conhecido e sem experiência prévia em disputas majoritárias. A força do interior, a capilaridade da máquina estadual e a vinculação com o ex-presidente Lula foram decisivas. 

O episódio se soma a outros exemplos em que as pesquisas não anteciparam corretamente a dinâmica da reta final, o que mostra que o eleitor baiano costuma decidir seu voto em uma lógica mais emocional e conjuntural do que racional e estática.

Em agosto de 2025, há ainda mais de um ano para a eleição, e o cenário político pode sofrer inúmeras reconfigurações. É a “volatilidade eleitoral”. Um ano antes do pleito, há variáveis ainda não definidas — alianças, crises, escândalos, desdobramentos econômicos, movimentações nacionais — que alteram a percepção do eleitor. Pesquisas tão distantes da urna devem ser vistas como termômetro, não como previsão.

Outro ponto relevante diz respeito à aprovação do governo estadual. Jerônimo tem hoje uma desaprovação de 51,6% e uma aprovação de 44,9%, segundo o mesmo levantamento. Trata-se de um número preocupante para quem busca a reeleição, especialmente em um estado onde a popularidade do Executivo sempre foi um trunfo da base governista. Mas vale lembrar que Rui Costa, em 2017, também enfrentava críticas pontuais, e reelegeu-se com ampla margem em 2018. A máquina do Estado, aliada à força do lulismo na Bahia, costuma operar mudanças de percepção nos meses que antecedem o pleito.

A pesquisa também abre uma janela para observar a corrida ao Senado. Em 2026, duas vagas estarão em disputa, e Rui Costa lidera a preferência, seguido por Jaques Wagner. Ambos, com histórico de vitórias expressivas, ainda gozam de prestígio eleitoral, especialmente entre os mais pobres. A entrada de nomes da direita, como João Roma e Márcio Marinho, mostra que há um eleitorado conservador em ascensão, mas ainda fragmentado.

Por fim, há que se considerar o “fator lulismo”. Lula segue sendo o principal cabo eleitoral da Bahia. Sua influência tende a crescer em campanhas proporcionais e majoritárias, especialmente se a oposição estiver atrelada à imagem de Bolsonaro, rejeitado em larga escala no Estado.

Na minha opinião, a pesquisa não deve ser ignorada, mas tampouco pode ser tomada como sentença e ser agarrada por isso. Ela oferece uma fotografia de julho de 2025, e não um retrato definitivo de outubro de 2026. O eleitor baiano já deu provas suficientes de que é capaz de surpreender. E, como se sabe, na política da Bahia, o jogo só termina depois do último voto apurado. A conferir. 
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Jornalista/ twitter: @victordojornal